Foi fundada em 6 de junho de 1888, dias após a promulgação da lei que aboliu a escravidão no Brasil. Quando da fundação, foi denominada de Sociedade Treze de Maio. Segundo seu estatuto, tinha o objetivo de promover ajuda para os seus sócios em caso de pobreza, moléstia e funeral. O estatuto também previa a realização de celebrações nos dias 13 de Maio, em comemoração à assinatura da Lei Áurea, e no 28 de Setembro, data que em 1871 foi promulgada a Lei do Ventre Livre. Assim, interessava aos fundadores e sócios da “Treze” preservar uma memória relacionada à conquista da liberdade, o que certamente tinha uma grande importância para pessoas que sentiam cotidianamente o estigma da escravidão e os percalços do racismo em uma sociedade altamente racializada e desigual.

A primeira sede da sociedade funcionou na casa de João Batista Gomes de Sá, um dos fundadores, localizada na Rua do Mato Grosso (atual Comendador Araújo). Posteriormente, a agremiação teve diversas sedes provisórias, até que em 1896 a Câmara Municipal cedeu à instituição um terreno na Rua Colombo (atual Clotário Portugal), onde a sociedade se encontra até hoje em funcionamento, sendo, portanto, uma das entidades negras mais antigas do Brasil.

Ao longo de sua existência, a sociedade adquiriu diferentes denominações. Nos anos iniciais, algumas notícias na imprensa eram publicadas em nome do Club Treze de Maio; no estatuto de 1896 foi incorporado o termo “Beneficente”, ficando o nome Club Beneficente Treze de Maio; foi só na década de 1930 que a sociedade adotou a denominação “Operária”, tornando-se, então, Sociedade Operária Beneficente Treze de Maio, nome que permanece ainda hoje.

A maior parte dos sócios-fundadores dessa agremiação era formada por homens que haviam vivenciado a experiência da escravidão até poucos anos antes da Abolição. Entre eles, Vicente Moreira de Freitas que tornou-se liberto em 1884. Mais tarde, porém, a sociedade passou a congregar pessoas de origens sociais e raciais distintas.

Vicente Moreira de Freitas – fotografia sem data, feita por Clarissa Grassi a partir da fotografia dos túmulos no Cemitério Municipal de Curitiba.

Os Estatutos da agremiação evidenciam que, além dos auxílios financeiros destinados aos sócios que necessitassem, a “Treze” também tinha uma constante preocupação com a instrução, procurando manter em funcionamento uma biblioteca e uma escola noturna em sua sede. Além das funções de beneficência e instrução, a “Treze” também procurava positivar a identidade africana, já que no Estatuto de 1896 a agremiação inseriu no Artigo 1º o objetivo de “realizar a união dos descendentes da raça Africana”, e defender os interesses e direitos dos mesmos.

A “Treze” também mantinha estreitas relações com outras agremiações coetâneas, como a Sociedade Protetora dos Operários, Sociedade Beneficente dos Trabalhadores da Herva Matte, além das irmandades de São Benedito, Rosários e Bom Jesus do Perdão. Além disso, uma característica importante dessa agremiação foi a forte participação de mulheres, que se organizavam em torno dos grêmios, como o das Camélias e o Flor de Maio.

População negra ligada ao associativismo em manifestação pública na praça Tiradentes. 21 de abril de 1913. Foto de Arthur Wischral. Casa da Memória da Fundação Cultural de Curitiba. Na imagem a presença feminina é evidenciada.

Assim como outras sociedades beneficentes da época, a “Treze” também foi perdendo sua função de beneficência, tornando-se um espaço para atividades culturais, como a realização de bailes. No entanto, até hoje a sociedade permanece como um território negro na cidade de Curitiba. Situada na Rua Desembargador Clotário Portugal, nº 274, promove bailes e festas nas quais é grande a presença da população negra da cidade.

verbete elaborado por Pâmela Beltramin Fabris  Universidade Federal do Paraná – Doutoranda

janeiro 2020

Referências Bibliográficas:

FABRIS, Pamela B.; HOSHINO, Thiago A. P. Sociedade Operária Beneficente 13 de Maio: mobilização negra e contestação política no Pós-Abolição. In: MENDONÇA, Joseli M. N. e SOUZA, Jhonatan Uewerton. (orgs.) Paraná Insurgente – História e Movimentos Sociais, século XVIII ao XXI. São Leopoldo: Casa Leiria, 2018.

FREITAS, Nei Luiz Moreira de. Celebração do 13 de Maio: subsídios para elaboração de uma proposta de registro de patrimônio cultural imaterial. Monografia de Conclusão de Curso. UFPR, 2018.

HOSHINO, Thiago A. P.; FIGUEIRA, Miriane. Negros, libertos e associados: identidade cultural e território étnico na trajetória da Sociedade 13 de Maio (1888-2011). Curitiba: Fundação Cultural de Curitiba, 2012.