Ficha Técnica
Entrevistado: Nei Luiz Moreira de Feitas
Entrevistadores: Joseli Mendonça, e Pâmela Fabris
Local: Curitiba (PR), na sala do CEDOPE – UFPR – Campus da Reitoria.
Data: 06/12/2019
Duração: 1h10m21s
Páginas: 54 páginas
Degravação: Julyane Cequinel Hul [com observações sobre condições, feitas pela equipe]
Como referenciar
FREITAS, Nei Luiz Moreira. Entrevista a Joseli Mendonça e Pamela Fabris. Curitiba (PR), 06/12/2019. Disponível em https://afrosul.com.br/entrevistas/
Legendas:
J.M. – Joseli Mendonça
N.F. – Nei Freitas
P.F. – Pâmela
J.M. – Bom, então vamos lá. Iniciando então, hoje é dia seis de dezembro de 2019. Estamos eu, Pâmela e Nei na sala do CEDOPE para realizar uma entrevista com o Nei. Aí eu queria, Nei, que você começasse só falando o seu nome para a gente ter o registro.
N.F. – Nei Luiz Moreira de Freitas.
J.M. – Então, antes da gente iniciar, é bom esclarecer, assim, né? Para o próprio registro da entrevista, que o Nei faz parte da equipe que realiza essa pesquisa desde 2018, né? E que muitas das coisas sobre as quais a gente vai conversar nesta entrevista são coisas que a gente já vinha falando com o Nei..? E coisas que a gente já vinha conversando… e o que a gente está fazendo, na verdade, é um registro dessas conversas…que a gente já tinha aí, ao longo desse percurso de pesquisa… e a gente conversava muito porque é um percurso de pesquisa que envolve familiares do Nei, né… Que… sobre os quais a gente sempre conversava. Então, muitas das coisas que a gente vai registrar aqui agora não é exatamente novidade para nós, né? … por isso que muitas vezes até o tom vai ser muito mais de conversa mesmo, do que de perguntas e respostas. Então você já participou de várias entrevistas que a gente fez, a gente inclusive já fez entrevistas juntos, entrevistamos a Dona Índia juntos, o Mauricio Brito juntos, então você sabe, não é Nei… que você fique muito à vontade para falar o que você quiser e não falar o que você não quiser, né… Inclusive dos registros que a gente já tem. Então, a gente queria começar… assim… a gente sabe que você foi estudante do curso de História aqui,…você já é um historiador formado, se formou aqui no curso da Universidade Federal do Paraná e que quando você realizava esse curso, você já realizava pesquisas para buscar informações sobre a sua família, sobre os seus ascendentes, né? Aí eu queria que você falasse um pouquinho, assim, a gente queria que você falasse um pouquinho, para a gente registrar, quando que você iniciou essa busca, … por informações da sua família? Conta um pouco essa história de como que foi essa…
N.F. – Certo. Bom, essa história começa bem na infância que a minha mãe me apresentou o meu bisavô, uma imagem do meu bisavô no Cemitério Municipal. E me falou algumas coisas dele: “esse era teu bisavô”. Porque eu fiquei órfão muito cedo, né… quatro anos, três anos, eu fiquei órfão e ela foi me passando essas referências da minha família do lado paterno… Então ela me apresentou o meu bisavô, Vicente Moreira de Freitas, ela me disse que foi um escravo e me contou algumas coisas dele, que ele foi um homem importante também, na época. Aí se passaram alguns anos e eu sempre fiquei com essa… essa imagem do Vicente Moreira de Freitas e aí, mais tarde eu fui especular para os meus parentes do lado paterno, aí eles me contaram uma história que ele tinha vindo da África, que ele tinha um irmão e que foram separados, então foi uma história um pouco… é… trágica. E que também que ele foi importante, que ele ajudou na construção da Catedral de Curitiba, na reforma que ocorreu. Também foi um fundador da Treze de Maio, né? E também era presidente da Sociedade Operária de Curitiba. E … foram se passando, aí eu fiquei com essas referências, mas eu queria aprofundar, realmente mais isso. E um dia eu estava em um site de busca, e coloquei lá por um acaso “Vicente Moreira de Freitas”, isso depois de anos, agora com a internet, né… e aí eu encontrei, em 2014, se não me engano, … encontrei Vicente Moreira de Freitas sendo homenageado na Sociedade Treze de Maio, né… O autor desse texto era Odivã… Odivã… agora não me recordo o sobrenome dele. E aí eu procurei esse Odivã e procurei a Sociedade Treze de Maio, estava havendo um evento na Sociedade Treze de Maio e aí eu comecei a ver, realmente, que tinha uma placa em homenagem a ele na Sociedade Treze de Maio, que ele foi o fundador da Treze de Maio, né… E esse texto do Odivã dizia também muita coisa a respeito dos negros recém libertos que se reuniram para criar uma sociedade de mútuo auxílio. E aí eu passei a conhecer pessoas que estavam pesquisando também a respeito da Sociedade Treze de Maio e do Vicente Moreira de Freitas. E isso me trouxe, assim, é… o desejo de estudar mais, aí eu procurei… o curso de História… Aí eu consegui entrar no curso de História da Universidade Federal do Paraná… e durante o curso eu fui aprimorando mais o conhecimento, as buscas… Conheci também um primo meu, que também, nessa mesma época, estava pesquisando sobre o Vicente… ele me trouxe a certidão de nascimento do Vicente.
J.M. – Esse primo quem é?
N.F. – Esse primo é o André Brito. Aí me trouxe essa certidão de nascimento, e aí eu consegui vislumbrar que ele era escravo do José Moreira de Freitas… que ele era escravo do José Moreira de Freitas e filho de Madelon, só que esse nome, eu fiquei procurando por esse nome durante muito tempo, até que eu descobri que não era Madelon, né? Porque do José Moreira de Freitas, que era o senhor dele… eu descobri que o José Moreira de Freitas, no Arquivo Público, era… tinha recebido o Vicente como herança. E ali tinha Vicente Moreira de Freitas, 13 anos, e aí o valor também, e tinha Matilde. Aí que eu consegui ligar: “ah, não é Madelon que está escrito aqui, é Matilde que está escrito”, né… Então ali eu encontrei, nesse inventário, encontrei a Matilde, a minha tataravó; o Vicente, meu bisavô e o irmão do Vicente, que é o Celestino, se eu não me engano. E, assim.. isso eu ter descoberto isso para a minha família foi, assim, foi surpreendente porque algumas primas minhas…né… diziam que passaram toda uma vida acreditando que ele tinha vindo da África e que tinha toda essa história trágica, né… E como eu mostrei os documentos, realmente eles viram: “não, não é essa história trágica”. Então, assim, a história dele não bate com aquilo que foi contado… que veio da África e tinha separado… Não. ele nasceu … né… aqui em Curitiba, ele já era uma terceira geração, né… de curitibanos aqui, então assim… ele tem uma história em Curitiba. E também descobri logo após, na faculdade já, eu descobri também o momento que ele foi liberto, né… pelo Fundo de Emancipação, através de jornal também eu consegui identificá-lo como liberto e foi isso a minha pesquisa… Assim, e que levou também eu fazer um.. TCC… um trabalho de conclusão de curso, também levou eu fazer… sobre a Treze de Maio e a abolição como uma celebração, uma pesquisa sobre a celebração da Treze de Maio. Isso que me levou.
J.M. – Está certo. E assim, Nei, você disse que quando a tua mãe falou do Vicente, você era criança. Você lembra mais ou menos a idade que você…
N.F. – Eu deveria ter uns seis, sete anos, porque a minha mãe era funcionária pública e ali próximo do Cemitério Municipal existia o Instituto de Previdência do Estado, e ali tinha também consultório odontológico, e ela me levava ali para nós fazermos hora, antes do dentista, a gente ia dar uma volta no cemitério. E ali eu conheci o Vicente.
J.M. – Uhum. E aí o que ela falou do Vicente é que era teu bisavô, que era…
N.F. – Que era meu bisavô: “esse aqui é teu bisavô.. Ele foi escravo”. Ela não me contou muitos detalhes porque realmente ela não tinha. Ela tinha uma informação que meu pai passou para ela.
J.M. – Você disse que ficou órfão bastante cedo. Você ficou órfão de pai? Né… O teu pai era neto do Vicente, né…
N.F. – Era neto do Vicente, que era Vicente também.
J.M. – O teu pai?
N.F. – Eu sou filho do Vicente Moreira de Freitas, meu pai, neto.
J.M. – Ah, sim, você é filho. Sim. E tinha outros ancestrais, assim, outros ascendentes na família, sobre os quais sua mãe contava a história, ou só o Vicente? Teu avô, por exemplo?
N.F. – Sim, o meu avô ela contava também, mas ela, eu acho que o que mais chamou atenção dela, porque ela tinha foto, né.. tinha foto ali no… como se chama? No túmulo do Vicente, então eu acho que ela… O que mais chamava atenção, realmente, era o meu bisavô.
J.M. – O teu avô era o?
N.F. – Era o Mario Moreira de Freitas.
J.M. – E do Mario você sabe hoje alguma coisa?
N.F. – É, do Mario eu fui descobrir, assim, através das pesquisas também, né… que ele era sócio da…da… como se chama lá?
J.M. – Protetora dos Operários, né…
N.F. – Não, dos Operários, do Operário, né… E poucas coisas eu sei, assim, dele. Que ele foi funcionário público também, né… no final de sua vida… mas poucas coisas que eu tenho. Não tenho muita pesquisa a respeito do Mario, não.
P.F. – E sobre a Olímpia, ela não chegou a comentar? Que tinha foto do Vicente e da Olímpia…
N.F. – É, ela comentava, ela comentou da Olímpia, mas, assim, não muito aprofundado também. E eu também não… Eu busquei algumas coisas da Olímpia nessa minha pesquisa, também não encontrei muito material a respeito da minha bisavó.
J.M. – Uhum. E você falou que encontrou o André, né? Mas você encontrou um outro primo também, né… Nessa…
N.F. – Eu encontrei o André, e encontrei o Maurício. Esses dois são primos… assim… de quarto grau, eu acho, se é que se pode dizer. Eles são filhos… eles são bisnetos da irmã do meu avô. São bisnetos da irmã do meu avô. Mu avô é Mário, irmão da Vicentina, que é bisavó deles, né… E conheci uma outra prima também, que é filha de uma das primas, que vive na Hungria, ela é húngara, né… Que vive na Hungria hoje. E nesse mesmo momento, acho que 2015, 2016, nós nos reunimos na Sociedade Treze de Maio, né… Então, assim, foi muito interessante porque pessoas que nunca tinham se visto na vida, mas que têm um ancestral em comum, né… Então essa moça de… Elin [refere-se ao nome da moça], húngara, o André Brito e o Mauricio Brito, e eu, né… Então, assim, foi muito interessante essa… conhecer essas pessoas, né…
J.M. – Vocês têm fotos desse encontro?
N.F. – Eu acho que sim, temos sim. Temos.
J.M. – É? E fotos da família, você tem? Família…
N.F. – Eu tenho do Mario. A do Mario, eu tenho. Minha bisavó, meus tios e meu pai. Inclusive tem a Índia, né… Nessa foto, quando menina, eu acho que ela tinha uns quatorze anos.
J.M. – Uhum. É, porque a outra pessoa que você nos apresentou foi a Dona Índia, né… Que tinha bastante, né… Que tinha recordações de ouvir o pai falar do avô, né… Mas na sua família, basicamente, quem te falou do Vicente, então, quem te fazia reminiscência do passado da família era a tua mãe?
N.F. – Foi minha mãe.
J.M. – Não havia… com a Dona Índia, por exemplo, você não teve muito contato?
N.F. – Veja, é… Nós ficamos muito… O meu pai faleceu e nós ficamos muito no lado materno, né… O lado paterno ficou muito distante. Então, assim, talvez a única forma que a minha mãe tinha de me apresentar o meu pai, e a preocupação dela… Então, foi através de ir contando as histórias que ela sabia da minha família, né… E depois eu que fui buscar isso, realmente, porque a gente não tinha uma aproximação. Eu comecei a me aproximar, assim, da família paterna a partir da adolescência, dos quatorze anos que eu já poderia ir sozinho na casa deles e tudo. Mas a gente não teve uma relação, assim, muito próxima durante a minha infância.
J.M. – Entendi.
N.F. – Meus avós… Quando eu nasci, meu avô, o Mario, já era falecido. Logo em seguida, meu pai faleceu, daí minha avó também faleceu, então a gente perdeu o contato, assim, com os ascendentes. Agora, tios e primos daí a gente não tinha realmente contato.
J.M. – E do lado materno? Como que é a história da família do lado da mãe?
N.F. – Do lado materno é bem próximo, não tenho mais nenhum dos tios maternos, né… Mas, assim, era bem mais… Tinha bem mais convívio, de passar Natal junto, Ano Novo junto, né… Era minha mãe e os irmãos dela.
J.M. – E a sua mãe contava a história também dessa família? Que é a família dela, a tua família pela parte da…
N.F. – Contava, contava, mas não esmiuçava muito porque não tinha muito… Não tem muita história, né… Não tem muita história de quem que era minha avó materna, quem que era meu… Se perdeu muito, né…
J.M. – A tua mãe era uma mulher negra?
N.F. – Minha mãe, sim. Uma mulher negra.
P.F. – E nascida em Curitiba?
N.F. – Nascida em Curitiba também. Eles se conheceram, assim, na infância já com a família Moreira de Freitas. Eles eram vizinhos no Água Verde.
J.M. – Sua mãe, o sobrenome dela?
N.F. – Franco.
J.M. – Franco. E ela morava na Água Verde?
N.F. – Na Água Verde, eles se conheceram quando crianças. Ela era amiga da minha tia, né…
J.M. – Como que era o nome dela, Nei? A gente nunca falou dela.
N.F. – Eupídia Franco de Freitas.
J.M. – Eupídia?
N.F. – Eupídia.
J.M. – Eupídia Franco de Freitas. E aí eles se conheceram quando crianças no Água Verde?
N.F. – Isso. E depois, mais tarde, ela acabou casando com o meu pai.
J.M. – Uhum. E sobre a família dela, ela não relatava então?
N.F. – Ela tem pouca referência, na verdade. Ela tem poucas referências. A mãe dela era adotada, e muito se perdeu, assim, não tem muita história mesmo.
J.M. – Uhum. E é interessante, né… Porque o…
N.F. – Se tinha alguém escravo nessa família, não tem referência, assim.
J.M. – Ela não tinha essa…
N.F. – Não tinha.
[pausa]
J.M. – E é interessante, né… Porque, o Vicente, ele parece que era uma pessoa que, ele já era meio ícone, assim, na família, né… Porque foi a pessoa em torno da qual todos se juntaram, né…
N.F. – Sim.
J.M. – Você, o André e o Maurício foram buscar informações justo do Vicente, né… Que devia ser uma pessoa cuja lembrança era retomada, ali, por vários seguimentos da família, né… Então é sempre que a gente pensa até o nome, né… Tem várias pessoas que são Vicente, seu pai era Vicente, uma tia que é Vicentina, né…
N.F. – E o lado paterno deles também é Vicente, né… Vicente Brito.
J.M. – Vicente Brito, é…
N.F. – Na verdade eles não sabiam da história do Vicente Moreira de Freitas. Eles foram porque eles encontraram mais referências. Eles estavam buscando … é…o lado… Como eles… A Vicentina é o lado materno deles, né… Eles foram buscar o lado paterno, né… Só que eles não encontraram muitas referências…
J.M. – Que era o Brito?
N.F. – Que era o Brito. Eles foram buscar referências do Brito, mas não encontraram. Aí eles foram buscar os Moreira de Freitas através da bisavó que é a Vicentina. Daí eles encontraram bastante referências. Que não tinha muito dos Brito mesmo.
J.M. – É. Então talvez desse lado da família não tivesse essa lembrança tão marcada como…
N.F. – Não tinha. Não tinha essa lembrança. Eles não sabiam que o Vicente tinha sido escravo, que o Vicente tinha sido um dos fundadores da Treze de Maio, trabalhou na reforma da Catedral… Eles não tinham essa referência.
J.M. – O Nei, e além da tua mãe, então… Mas você disse que, por exemplo você contava para as suas… Quando você contou para as suas primas que você achou, né… documentos que mostravam que o Vicente não era africano e tal, então assim, isso era uma história que corria na família, não era só a sua mãe que falou para você…
N.F. – É, na verdade, como eu falei, isso eu fui buscar depois, maior, né… com a família paterna, que eles me contaram essa história que tinha a história de africano e de separação de irmãos, né… Então, assim, eles conviveram com essa história muito mais tempo, né… E quando eu contei para eles foi, assim, uma surpresa, né… Passaram anos, assim, com uma dor, né… que não era verdade, né… Passaram muito tempo com um sofrimento que foi uma criação, né… porque os documentos dizem, realmente, que o Vicente nasceu em Curitiba, em mil oitocentos e… Na década de cinquenta, mais ou menos, né… Agora eu não sei, não lembro bem a data.
J.M. – E você, o que você sentiu quando você encontrou esses documentos?
N.F. – Ah, eu…[silêncio]
J.M. – Porque você também tinha essa história, né…
N.F. – Tinha essa história. Ah, eu senti… Acho que não senti muito, assim. “Não, eu tô descobrindo, eu tô pesquisando”, né… Eu fiquei, assim, eu fiquei surpreendido por saber o nome da…descobrir quem era a mãe dele, né… de onde… Eu acho que o que mais me surpreendeu é de onde veio o nome, né… José Moreira de Freitas, e que ele levou esse nome, né… então, assim, uma coisa importante nessa história é que o que levou eu encontrar essas referências foi o sobrenome que ele manteve, né… porque se tivesse perdido esse nome, né… eu não teria encontrado assim. O Vicente poderia ter colocado Vicente Santos, né… Eu não ia encontrar, realmente, Vicente Santos escravo do José Moreira de Freitas, né… Eu não ia conseguir ligar, né… Então, assim, esse Santos é o Vicente que era o escravo do… não ia conseguir fazer essa referência. Então, assim, eu acho que o nome foi bastante importante ter sido preservado porque daí eu consegui, realmente, chegar no senhor dele. Depois do senhor dele, eu encontrei o senhor anterior, né… que foi no inventário, então eu acho que isso que me ajudou bastante. Então isso, para mim, eu acho que ajudou bastante, foi surpreendente, assim: “olha, ele conservou esse nome”, então é realmente, né… o que auxiliou bastante.
J.M. – Uhum. Porque ele, no fim das contas, ele adotou o nome do ex senhor, né…
N.F. – Do ex senhor. E que esse nome se mantém numa família, né… e que não há outra família que tenha esse nome, né… Então ele adotou e se manteve através dessa família que eu faço parte, né… A família do José Moreira de Freitas mudou o nome à outra família, né…
J.M. – Mas você não tem nenhuma informação, né… sobre essa família?
N.F. – Não tenho nenhuma informação. Não tenho nenhuma informação. Eu tenho, assim, alguns nomes na época, né… Na época, eu tenho alguns nomes. Eu não lembro muito bem se era Munhoz, ou alguma coisa assim. Eusébio, parece que era um dos filhos do José Moreira de Freitas, né… Mas hoje não sei quem que é essa família, né… Hoje eu não sei.
J.M. – Isso causa alguma estranheza na família, assim, ou em você mesmo quando você viu que tem… Afinal de contas, o Vicente foi escravo, e a família que se constituiu a partir do Vicente tem um nome senhorial, né…
N.F. – Certo. Sim! Assim, alguns parentes realmente: “nossa, mas o nosso nome é vindo de um escravo!”, né… Ficam, assim, meio… como que eu posso dizer? Ficam meio [pausa] é…indignados, né… Porque, aí uma outra prima: “mas eu sempre soube disso, eu sempre soube. Esse nome é um nome que vem do seu senhor”, né… E… Mas eles ficam bastante indignados, eu digo: “não, é normal. A gente teria que ter um sobrenome”, né… Teria que ter um sobrenome, então…
J.M. – Tem uma história que se conta da reforma da Catedral. Se contava uma história na família, né… Como que é essa história?
N.F. – Sim. Tem. Tem uma história da família que é uma história… é… é super interessante que tem uma outra família também em Curitiba que conta a mesma história [risos], que é uma família de alemães. A Catedral foi construída, a princípio, por… Parece-me que começou com o José Moreira de Freitas, na primeira reforma, né… E o Vicente trabalhou nessa reforma, então o que contam na minha família, que quando foram fazer a homenagem aos trabalhadores que ali fizeram a reforma, não colocaram a equipe do José Moreira de Freitas que fazia parte o Vicente Moreira de Freitas, e nisso ele deu uma marretada que tem até uma trinca nessa placa lá na Catedral.
J.M. – Quem deu a marretada teria sido o Vicente?
N.F. – Foi o Vicente, indignado porque não estava o nome de quem trabalhou na obra, ali, né… E tem uma outra família, do Henning, que também foi um dos construtores posterior, que reivindica também que foi, por parte do genro do Henning, que fez a marretada, né… Mas, assim, essa é uma história que se perpetua na minha família, uma história muito antiga, né… E que é isso que é contado.
J.M. – A Dona Índia chegou a mencionar, né…
N.F. – Inclusive a… É! É bem antiga, tanto é que a neta do Vicente [refere-se a Dona Índia] sabia dessa história… sabia dessa história.
J.M. – Na entrevista dela não fica muito claro, mas agora você contando fica claro. Porque ela fala, né… Que ele participou da reforma da Catedral, tanto que entrou lá e deu aquela marretada, né… Ela fala alguma coisa assim. É… interessante.
P.F. – Os outros irmãos do Mário, você conseguiu alguma informação também, fora a Vicentina? Uma época a gente estava falando sobre isso, da gente tentar ver o que aconteceu com os demais, não sei como é que… Se você conseguiu alguma coisa sobre isso?
N.F. – Eles eram… Se eu não me engano, eles eram em sete irmãos, né… Era a Palmira, a Maria de Lourdes, a Vicentina, Leonídia, o Vicente, o Mário e acho que tinha mais algum que eu não lembro. Então, eu consegui, realmente, algumas coisas. Um faleceu, o Vicente, ele tinha um filho, também o Vicente tinha um filho chamado Vicente que faleceu muito jovem com uns vinte e seis anos. Também teve uma filha, também, que faleceu bem jovem que era a Maria de Lourdes, né… A Palmira… a Palmira, ela aparece muito nos eventos da Treze de Maio como oradora. Tem até um artigo, uma nota que fala que ela era uma boa… uma excelente oradora. E, mas, assim, é uma personagem que desaparece, ela desapareceu, eu não consegui mais encontrar, assim, algumas informações a respeito dela. O que eu encontro, mais tarde, assim, é que os filhos dela estão sob tutela, alguma coisa parecida com isso. Mas assim, ela se perdeu… a história dela e os herdeiros, né… A Vicentina, né… eu tenho que são os Britos, né… A Maria de Lourdes morreu cedo, ela também tinha filhos, também não consegui prosseguir mais nessa pesquisa. O Vicente, parece que tinha uma criança também quando faleceu. Aí a Leonídia… a Leonídia eu tenho mais referências, assim, não… mais referências na família mesmo que conhecem, realmente, conheceram ela, a minha tia era afilhada dela. Ela faleceu no Rio de Janeiro e tem alguns descendentes no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul também. É….Quem mais? Eu acho que é só isso, né…
P.F. – A Vicentina você não chegou a conhecer?
N.F. – A Vicentina eu não cheguei a conhecer, não cheguei.
P.F. – Ela também faleceu cedo.
N.F. – Eu não conheci nenhum deles, na verdade, porque eles são tudo de mil e novecentos [riso]
P.F. – Ela morre em vinte e cinco, não?
N.F. – Ela morre em cinquenta. Ela morre em cinquenta. Ela morre em cinquenta ou quarenta. Ela que toma…
J.M. – Suicidou-se, né…
N.F. – Se suicidou, ela que tomou… com Coca-Cola. Ela tinha cinquenta e cinco anos.
P.F. – O Mário é um dos mais novos, acho, né…
N.F. – O Mário já nasceu no século XX, né… Ele nasceu no começo de mil e novecentos, isso. Acho que é. E o Vicente morre em vinte e quatro, vinte e seis, alguma coisa assim, né…
J.M. – Nei, a gente, meio por acaso, né… eu acho… a gente chegou, meio por acaso, num outro ramo da tua família. Você sabe disso, né… Dos Diniz?
N.F. – Diniz, fiquei sabendo.
J.M. – Porque, eu acho que foi por acaso, né…
P.F. – É, foi aquela notícia no jornal que a gente encontrou do… Não lembro nem como é a notícia agora, do… Falecimento, acho que era: alguém faleceu…
N.F. – Falecimento, que tá tudo ali: Celestino, Vicente… não sei o que lá Diniz, né…
P.F. – Isso. Exato. Era a morte de uma mulher e dizia que ela era prima do Vicente e do Celestino. Aí foi por essa notinha de jornal que a gente começou a ir atrás.
J.M. – Então, mas a Rosângela [refere-se a descendente de um ascendente de Nei, que fez contato com a equipe do projeto] chegou aqui como?
P.F. – Aí a gente foi vendo… Aí foi por acaso, porque a família, quando teve a exposição lá na Casa da Memória, na Casa Romário Martins [refere-se à Exposição Presença Negra em Curitiba, apresentada entre 2018 e 2019], a neta do Diniz levou uma foto que tinha o Benedito dos Santos Diniz e a família. Aí a hora que eu vi o Benedito dos Santos Diniz, eu lembrei desse nome, lembrei que ele era o primo do Vicente.
J.M. – Ah, sim. Então foi por acaso, porque você fez a conexão, então. Você sabia que o Benedito Diniz tinha uma relação com o Vicente. E aí você entrou em contato com a Rosângela, né… que também não conhecia, né… A… porque… É interessante isso, porque assim, o conhecimento vai até um membro da família, né… E porque isso? Acho que é natural, né… Eu, por exemplo, sei do meu avô, mas não sei do meu bisavô, né… Então, a memória familiar, ela também se esgota em uma determinada geração, né… E a família da Rosângela tinha a memória, acho que até o Generoso, né… O Generoso que era pai do Benedito, isso? né… Diniz. Mas não tinha a memória do ancestral do…
P.F. – É, da esposa do Generoso, que era irmã da Matildes, né…
J.M. – É, isso. A esposa do Generoso era irmã da Matildes, que era mãe do Vicente, né… Então, é… E você não conhece esse ramo…
N.F. – Não conheço.
J.M. – Que é uma relação familiar que se estabelece lá em cima, na árvore [genealógica], né…
P.F. – A parte das mulheres fica mais esquecida, né… Tanto a Olímpia, a Matildes… porque foram primos por parte de mãe, né… A Matildes e a Apolinária eram irmãs. Então acho, que parece que naquele momento se conheciam, mas depois foram perdendo essa relação, né… Dá a impressão que a memória dos homens é mais forte, assim. Aparece com mais força, né… Mesma coisa quando ele fala do Adolfo, do Adolfo… ele fala muito mais do Adolfo…
J.M. – Adolfo Brito.
P.F. – O Maurício, no caso, né…[refere-se a outro dos entrevistados, do ramo Brito da família, primo de Nei, também entrevistado pela equipe] do que da Vicentina. Mesmo o Adolfo morrendo… antes até da Vicentina. Dá essa impressão, um pouco.
N.F. – É bem isso, claro. Tanto é que não encontraram que daí eles foram em busca da Vicentina, que encontraram daí o Vicente, daí voltaram no patriarca novamente.
J.M. – Uhum. É, exatamente. Então tem até um momento, ali, que as mulheres são importantes, né… Você pegar, por exemplo, na geração que está no mundo da escravidão, as mulheres são importantes, tanto que você encontra a mãe do Vicente e a mãe da mulher do Generoso, certo? Você encontra as mães, né… Você não sabe… Você não tem registro dos pais. Chega uma hora que os homens passam a ter, né… A memória, o registro passa a ser do lado masculino, né… E aí é o Vicente que está na tua família e é o Adolfo no lado dos Brito, né… E a… Eu estou lembrando muito da… porque eu estava revendo, eu estava lembrando muito da entrevista da Dona Índia que ela fala muito, né… “Meu pai falava muito sobre o meu avô. Tinha a carta de alforria do meu avô.” Então, assim, essa família que começa a constituir uma memória, né… desse personagem, aí, que é masculino, que é o pai da família, né… Que é o…
N.F. – Sim, sem dúvida. Porque a Olímpia era a mesma, né… ali, da mesma geração do Vicente e pouco se fala, né… E pouca referência também, né… Muito pouca.
J.M. – Isso socialmente, né… Mas até na família, né…
N.F. – Até na família, até na família, né… A única referência que tem da Olímpia é que ela era índia, né… Mas, assim, outra… Mãe da Olímpia, quem era, não temos, né… A história da Olímpia, em si, né… da onde que ela veio, não sabemos. É muito vago, assim, a história dela.
J.M. – Você disse que a tua mãe era funcionária pública, ela não era professora?
N.F. – Ela foi professora, certo… Mas aí teve um sistema, nos anos cinquenta, do Moysés Lupion, lá, que tinha que fazer um curso e ela não passou nesse curso, aí ela ficou como inspetora de alunos, né… Mas, assim, ela me passou bastante informações, assim, né… Eu devo muito a ela, realmente, até essa história da minha família.
J.M. – E você se recorda, assim, se… o modo dela proceder na família, tinha essa coisa, assim, da valorização da educação, do ensino, era uma coisa forte isso?
N.F. – Ah, sim. Com a minha mãe foi muito forte. Porque eu tinha alguns problemas na escola e eu não queria estudar, chegou um momento que eu não queria estudar, né… E ela me obrigou a estudar, né… Eu tive… Eu sofria bullying na escola, né… E eu dizia que eu não queria, né… E ela, realmente, me levava, né… e apanhei muito, né… Ela me levava mesmo para a escola e eu tive que, né… Tinha que ir. Algumas vezes…
J.M. – Isso no início da…
N.F. – No início da minha vida escolar.
J.M. – Formação escolar, já? Já logo no início?
N.F. – Já logo no início, né… Logo no início, assim, para mim foi um choque, realmente, né… E ela me obrigava, realmente, a ir para a escola, né… Ela me colocou, realmente, né… nessa vida: “você tem que ir para a vida”, entendeu? Não vai… não pode fugir, né… Ela me colocou, realmente. Ela era uma mulher de bastante fibra, assim, né… Ela nos criou sozinha, porque perdeu o marido muito cedo, né…
J.M. – Quantos irmãos?
N.F. – Somos em três, né…
J.M. – Todos homens?
N.F. – Não, dois homens e uma mulher. E ela se manteve viúva, sempre, né… E… carregando a gente. Eu era criança, ela me carregava junto, porque naquele tempo não existia creche, não existia… não tinha condições de pagar alguém para cuidar, aí ela me levava para o trabalho dela…
J.M. – Você era o mais novo?
N.F. – Eu era o mais novo. Ela me levava na Biblioteca Pública, né… Eu com uns dois, três anos… Três anos já estava lá na Biblioteca Pública, fiquei acho que até uns dez anos, depois ela foi trabalhar no museu também, aí eu também ia lá com ela no museu, depois eu fiquei…
J.M. – Mas ela trabalhou na Biblioteca, isso?
N.F. – Trabalhou na Biblioteca também. Trabalhou no Museu e depois ela foi para uma escola lá próximo à casa.
J.M. – Qual museu?
N.F. – Museu Paranaense, que era na Generoso Marques, né… E depois ela foi para uma escola.
J.M. – E você frequentava o Museu também com ela?
N.F. – Eu frequentava o Museu, frequentava o Museu. Nossa, era uma festa. [risos]
J.M. – Eu imagino.
N.F. – Frequentava o Museu. Então, assim, ela me deu bastante, né… me incentivou bastante, né… Ela nunca esmoreceu, assim, largou, assim: “não, você não vai mais estudar.” Não, ela insistiu mesmo para que eu continuasse estudando, senão eu seria… Teria saído da escola muito cedo… seria, assim …
P.F. – Qual colégio?
N.F. – Não, perto de casa mesmo. Colégio estadual mesmo, público, né… Eu estudei ali até o Primeiro Grau, né… Depois eu mudei para o Tiradentes.
J.M. – Você morava onde nessa época?
N.F. – Eu moro no Uberaba, moro até hoje na casa que eu nasci.
J.M. – É mesmo? Uberaba.
N.F. – E…
J.M. – E esse colégio era próximo, ali?
N.F. – Era próximo, o Alfredo Parodi. E depois eu mudei aqui para o Estadual. [pausa] E aí, foi…
J.M. – Então a escola não era uma coisa agradável, né…
N.F. – Não, não era. Não era uma coisa… não, foi uma coisa muito ruim, realmente. Meu começo de vida, assim, não foi fácil. Porque tinha um pressão de ir para a escola e a pressão de casa, né… Tinha uma mãe que ela não queria, entendeu? E nunca soube…eu nunca fui muito de falar, né… Eu passava, assim, as minhas… os bullyings, calado, entendeu? Então ela não sabia qual que era o motivo, né… Achava que eu era preguiçoso, realmente eu não queria ir, né… E, assim, além de ser muito tímido, né… Eu não tinha coragem de abrir a boca pra pra a professora… olha eu até gaguejo [riso]… para ir ao banheiro, entendeu? Para mim era um tormento aquilo, era muito sofrimento. E tinha o bullying também, então assim, eu era muito anti-social, né… Então, assim, todo esse clima, assim, era muito difícil para mim. E eu não tinha esse diálogo para chegar em casa, e a minha mãe também não tinha noção, né… “Não, ele está com preguiça mesmo, e vai para a aula.”
P.F. – E seus irmãos também?
N.F. – Não, meus irmãos completamente diferente. Completamente diferente. Eles são bem mais velhos, eu não sei o histórico deles na escola, né… Eles são dez anos mais velhos, então eles já estavam… quando eu entrei, eles já estavam terminando o Primeiro Grau, né… Na época era isso. E… não, mas eles estudaram também, mas acho que eles não tiveram tanto problema quanto eu, né… Eu, assim, foi muito trabalho. Mas só assim na escola mesmo, só quanto a essa questão.
J.M. – E você fez Direito, não é, Nei? Antes de fazer História.
N.F. – Eu fiz Direito. Eu fiz Direito antes de fazer História.
J.M. – E o Direito é… Você gosta do…
N.F. – Olha, o Direito… eu gosto quando você pega uma boa causa, né… [riso] Assim, que você a satisfação… Que você vê a realização da justiça, né… E que não é sempre, né… Não é sempre que se realiza a justiça, né… E não é nem questão de: “ah, porque eu estou desse lado.” Não, mas é que você, realmente vê, assim, que correu o processo e que teve toda uma trégua, por exemplo, eu entreguei um imóvel de uma senhora que reside no imóvel há vinte anos, há mais de vinte anos, né… E ela reside nesse imóvel há mais de vinte anos e em primeiro grau, o primeiro juiz negou para ela o imóvel. Eu fiquei: “nossa!”… esse imóvel, ela reside, foi provado que ela reside, né… e ele não vai dar o imóvel, para quem que vai ficar esse imóvel? Ela reside no imóvel. Aí eu entrei com recurso e tudo, demorou, mas foi entregue o imóvel, né… Houve uma reforma nesse… Então isso te satisfaz, mas, assim, algumas ações, realmente, a gente não… Como se chama? Você fica…é… Chateado [pausa], e…sem esperança, né… sem esperança, realmente, de que… não acredita mais na justiça, né… Porque, realmente… Então, por um lado dá uma satisfação, e por outro lado também, né…
J.M. – Eu não sei se é tranquilo para você falar isso, Nei, porque é uma coisa muito atual, né… Mas você, por ser advogado, né… E, por ser negro, e por ter esse envolvimento com a História, né… da… você trabalha, você tem atuado na Comissão da Verdade da Escravidão, você está presidindo a comissão, né…
N.F. – Estou presidindo.
J.M. – E essa incumbência, digamos assim, ela, de alguma forma, ela cruza, né… vários… várias entradas da tua vida aí, né… como advogado, como historiador, e também que tem a ver com a tua história pessoal, da tua família, né… Como é que é esse cruzamento, assim? Por exemplo, quando você, né… Como que você vê isso? Como que isso incide na sua vida, na tua memória das coisas, na tua experiência, né… de…
N.F. – Então, eu sinto, assim, muita responsabilidade, entendeu? Porque se trata de uma Comissão da Verdade, ela já começa com esse nome: da verdade. Então eu tenho um compromisso com a verdade, então eu não posso ser volátil, assim, entendeu? Eu tenho que, né… trabalhar com a verdade, nada de especulação, né… E, assim… me dá um certo… me dá uma certa satisfação, né… Eu fico pensando: “poxa, eu sou um bisneto de um escravo, aqui nessa cidade e eu estou presidindo uma Comissão da Verdade sobre a escravidão”, né… Então, assim, traz bastante satisfação. Me traz bastante satisfação. Me realiza, me realiza bastante, me realiza bastante, embora existam algumas dificuldades, mas tudo tem as suas dificuldades, né… E não é fácil, mas assim, me traz bastante satisfação, realmente, eu fico bem satisfeito com esse trabalho, né… que é um trabalho voluntário, realmente, né… Mas, assim, é feito com bastante gosto, realmente.
J.M. – E como que as pessoas recebem, Nei… assim? Quando você vai em busca, por exemplo, de pesquisa dessa comissão, você diz, por exemplo… eu imagino que você tenha ido para Paranaguá, eu não sei se você foi lá no IHGB, você diz que está pesquisando para a Comissão?
N.F. – Sim.
J.M. – E como que as pessoas reagem? Elas sabem o que que é? Elas têm…
N.F. – Olha, algumas pessoas ficam: “mas para quê?”, né… A pergunta realmente é essa: “para quê?”, né… Nós nos apresentamos e as pessoas ficam… algumas já conhecem, ficam surpresas e querem participar, querem acompanhar, inclusive, agora as outras são surpresas, e para essas que ficam surpresas: “para quê?”, né… s gente tem sempre que estar revisando a história, eu penso. A gente sempre deve estar revisando a História, buscando, né… outras fontes, outros documentos… Então, contar essa história que está… que não foi contado durante muito tempo, que foi um trabalho de esquecimento, né… q que, para nós, né… descendentes, e para nós todos, brasileiros é de extrema importância. Olha, já estou discursando [risos] Mas é de extrema importância porque faz parte da nossa cultura, todo um processo, né… todo um processo cultural, porque não basta uma lei dizer: “não, foi abolida aqui a escravidão.”, né… tem todo um processo, uma fase de transição que não sei se a gente já passou dessa fase de transição, ou se a gente ainda está discutindo, né… Eu acredito que nós estamos discutindo, por isso que há um movimento de Dia da Consciência… Mês da Consciência Negra, por isso que existe essa Comissão da Verdade, porque a gente… nós estamos ainda numa transição, discutindo, realmente, qual que é, né… a nossa função nessa sociedade, a função do negro, do branco, quando é que nós vamos, realmente, virar uma nação, uma sociedade igualitária, porque tudo isso se discute por causa de uma questão de igualdade.
J.M. – Nei, olha, essa entrevista está ficando esquisita, porque a gente está falando de… [riso]
N.F. – Eu estou falando de outra coisa.
J.M. – Não, não, não, eu que estou aqui, porque… Depois quem vai transcrever isso precisa de uma orientação, e quem vai ouvir depois vai achar estranho essa entrevista [risos]. Mas a…. você… Porque a Comissão da Verdade da Escravidão vai contar uma história da escravidão, não vai?
N.F. – Vai contar uma história da escravidão.
J.M. – Você acha que a história do Vicente cabe nessa história que a Comissão da Verdade da Escravidão vai escrever sobre a escravidão
N.F. – Veja, nós estamos buscando os crimes… Então, nós não temos os pais do Vicente. Nós não temos o lado paterno, masculino do Vicente. Pode se encaixar, porque nós não sabemos quem foi o pai do Vicente, o avô do Vicente, o bisavô do Vicente, ou seja, ele pode ter sido vítima desse tráfico negreiro [refere-se ao tráfico ilegal, crime após 1831] também, né… Então se encaixa… pode se encaixar perfeitamente nessa pesquisa, né… Pode se encaixar, né… Porque o que que nós estamos… assim, dentro do sistema da escravidão, ele era escravo, né… mas ele não passou, até onde a história que eu conheço, ele não foi vítima de um crime, né… Não foi praticado nenhum crime, porque o sistema era esse, escravidão, né…
J.M. – E se o pai dele fosse um escravo, ele também seria.
N.F. – Mas se o pai dele chegou através do tráfico [ilegal], né… Então ele faz parte também dessa pesquisa, né… Ele faz parte. Porque daí o ascendente dele foi vítima de um crime, né…
P.F. – E o foco é esse, né…
N.F. – O foco é esse, que não foi reparado, realmente, a República veio e, nada. Continuou da mesma forma, né… Então assim… e nós nos espalhamos, assim, na Comissão da Verdade da Ditadura, né… que houve uma restauração, uma reparação, né… E também dos judeus e do regime Nazista, né… Que até hoje há… Até hoje a Merkel estava fazendo uma homenagem, lá, que foi no campo de Auschwitz, né… e disse que nós não podemos esquecer, os alemães não podem esquecer, realmente, dessa história, né… Então é emocionante uma autoridade, presidente do país fazendo isso, e que não ocorreu no país, né… Não ocorreu ainda no Brasil, nessa questão, né… Então é por isso, talvez não seja uma reparação pecuniária, indenizatória, né… mas……assim, simbólica, né… E as ações afirmativas também são ações restauradoras, reparadoras, né… As ações afirmativas, na questão da educação, por exemplo, né… Eu fico pensando: “puxa, as pessoas querem estudar e elas não têm condições”, eu acho que através das ações afirmativas, através dessas cotas, né… elas conseguiram entrar em uma universidade, né… E qual sociedade não quer que seus cidadãos estudem, né… Então vamos facilitar, né…
J.M. – É, mas você tem razão, porque o desconhecimento, né… Dos pais desses, né… Desses ascendentes, pode estar escondendo uma responsabilidade criminosa do Estado, né… Na história da tua família, né… que você desconhece, né…
P.F. – Em nenhum documento aparece, né… O nome do pai…
N.F. – … É, se perdeu completamente, né…
J.M. – Ok. Tem mais alguma coisa que você queira…
P.F. – Ah, eu tinha uma pergunta, mas vocês já falaram, mais ou menos, sobre isso, assim. Eu ia te perguntar a diferença do Nei de 2010, antes de saber de tanta coisa, e o Nei de agora, de 2019, sabendo dessas coisas.
N.F. – Então, eu acho que é uma diferença muito grande, né… Eu sempre tive a questão racial muito dentro de mim, né… Mas, a minha mãe, as mulheres, não sei elas entregam para a gente, assim, umas questões, assim, a mãe, principalmente, né… Ela te faz ver o mundo e te diz: “olha, o mundo é assim, ele é racista, ele é preconceituoso…”
J.M. – Tua mãe dizia isso?
N.F. – Sim, né… Então, assim, ela era uma batalhadora, porque também ela sofreu muito, então ela passava isso para a gente, né… Mas eu tinha isso em mim, mas eu não… como que eu posso dizer? Porque eu não quero me dizer militante, porque eu acho que militante é uma coisa muito forte, porque ele está representando um grupo, e eu não estou dizendo que eu estou representando alguém, mas eu estou dizendo por mim, né… E eu acho que tem muitas pessoas que têm a mesma história, né… Então, também, eu quero, né… eu lutando por mim, eu também estou lutando por elas, né… Então por isso que eu digo que eu não estou representando ninguém. Então, assim, essa diferença, realmente, que agora eu tenho, assim, mais respaldo, depois dessa pesquisa e desse trabalho, eu tenho mais respaldo para dizer: “olha, gente, é isso, realmente, falta uma reparação na nossa história, realmente…é bastante de perdas, né…” De repente você se vê liberto, mas assim, não tem toda uma… não existe toda uma cidadania. Como eu falei, as leis… a lei diz isso, mas a estrutura da sociedade, que é o racismo estrutural, vive ainda naquele… na escravidão e, nossa, cento e trinta anos não é… Então nós estamos ainda em um processo de transição, por isso que gera conflitos… e estamos, assim, em conflito. Eu acho que é isso. Então, assim, eu vejo que houve bastante mudança, realmente, de 2010 para cá, né… E no país mesmo, eu acho que também houve bastante, né…
J.M. – E você acha que essa reconfiguração, Nei, ela incide também sobre a autoestima das pessoas negras? Sobre a forma como elas próprias se veem?
N.F. – Claro, com certeza!
J.M. – Pensando na tua experiência pessoal, né… Claro que não dá para pensar em geral, mas olhando para si próprio, você acha que…
N.F. – Com certeza, eu acho. É! Essa história, de ter uma história de um ex escravo, né… que ele teve uma formação, formou uma família, que tem toda essa tradição, quer dizer, te dá uma segurança, assim, uma autoestima, te dá uma autoestima, né… Ainda sabendo que ele fundou, já estava com a intenção, realmente, pensando que: “olha, a situação desses ex escravos, né… Não vai ser das melhores, então nós vamos formar isso aqui para dar uma assistência.” Então, isso, realmente, dá uma autoestima, né… essa história toda, dá uma autoestima. Eu acho, assim, que se todos tivessem…, e é isso que nós buscamos através dessa pesquisa, …buscar a história dessas famílias, de cada indivíduo, dessas famílias negras, se cada um tivesse, assim, a sua história, conhecimento da história, com certeza eu acho que… faz um… faz um bem para a autoestima, faz um bem para você, a verdadeira história, porque… ah… muito se fala “ah, eles foram escravos, eles sofreram, eles passaram isso”, mas assim, a tua história individual, né… Você descobrindo ela, eu acho que te faz melhor, te faz, assim, você tem uma história, né… você tem uma história, e assim, e eu tenho uma história, né… Minha família tem uma história, então isso é muito dignificante, né… Tem uma base, uma história, né…
J.M. – E parece que isso estava no ponto de partida mesmo, de cada um de vocês, né… Que saiu. Eu lembro do André, na entrevista, ele falando que ele queria contar para a filha dele a história da família, né… E ele não tinha informações sobre… e aí ele foi atrás. Ele tinha informações sobre um lado da família, né… Que era uma família que talvez tivesse ascendência portuguesa, mas não tinha do outro lado. Ele falou: “eu quero que a minha filha conheça os dois lados.”, né… E foi buscar, né…
N.F. – É, isso é ansioso. Isso que faz parte também da nossa história, que a gente… que faz parte da nossa sociedade, que nós devemos buscar, realmente, porque nós ouvimos muito alemão, italiano, falando das suas raízes, né… E nós… a nossa… está perdida na África.
J.M. – Você lembra disso na escola?
N.F. – Como?
J.M. – Você lembra disso na escola? Você tem alguma recordação? De na escola ter essas coisas de… Porque geralmente tem, né… Nas aulas de História…
N.F. – Tem, tem, lembro, sim, né… Mas eu tinha já o Vicente, né… Então eu me [risos]. Então eu, eu tinha o Vicente, então eu não sentia muito essa vontade, entendeu? Essa: “me falta alguma coisa em História”, eu tinha uma história também. Daí, embora na minha época de estudos, não se estudava muito a escravidão a fundo, não estudava a história da escravidão, nem a história dos africanos, não se estudava…
J.M. – Não estudava?
N.F. – Não estudava, né… Era muito…
J.M. – Quando que você lembra, assim, a reminiscência que você tem, a primeira vez que você ouviu falar em escravidão, em história da escravidão, porque em algum momento da tua formação…
N.F. – Eu acho que eu tinha uns oito anos, no segundo ano, quando falaram da quinta parte do ouro, que os homens subiram lá de Paranaguá, né… Foi, essa, talvez foi a única referência dos escravos que eu tive na escola, né… A única.
J.M. – Porque aí, no Segundo Grau, assim, geralmente você tem, né… Nos livros didáticos, tem aquelas cenas de escravidão, escravos sendo açoitados, né… Às vezes, até é traumático, assim…
N.F. – Eu lembro que eu tinha um livro no… Na sexta série, tinha uns escravos, assim. Na capa, lembrei agora. [pausa] Mas eu não lembro muito de ter aprofundado…
J.M. – De fazer alguma relação, assim, né…
N.F. – Não. Não lembro, não lembro. Não lembro de ter feito relação, não.
J.M. – É que, muitas vezes, é traumático, né… Para as crianças negras acessarem, né… essas imagens, essas informações aí.
N.F. – É. [silêncio] Mas eu lembro muito pouco da história da escravidão na escola, no começo eu não lembro muito. Agora, na faculdade, sim. Agora na História daí eu aprofundei, realmente, né… Acho que foi, assim, uma boa graduação, porque me ajudou bastante, né… nessa pesquisa. Porque tudo, eu conseguia… sendo uma história clássica, história romana, eu conseguia fazer uma ligação da escravidão, então eu comecei, ali, no medieval também, a escravidão lá na Europa, né… Então, assim, eu consegui fazer toda uma graduação com base na escravidão, vendo só a escravidão. Foi muito interessante.
J.M. – Mas isso te interessava especialmente, então? O tema da escravidão na graduação te interessava.
N.F. – Me interessou bastante, me interessou bastante, me interessou bastante. [pausa] Na verdade acho que foi só isso que me interessou, assim, aprofundando, mas, assim, dentro da História Antiga, Roma, Grécia, Egito, a escravidão. No Medieval…
J.M. – E por que, por exemplo, quando você estava lá em Roma, e a escravidão interessava, porquê que era interessante?
N.F. – Porque eu queria, realmente, estudar a escravidão aqui, né… Eu queria saber a história dessa sociedade em que o Vicente vivia, então, eu queria saber qual que foi a, né… num contexto mundial, né… Na História Antiga, como que foi, né… Na Idade Média, né… Os servos, lá.. né… Na África mesmo, né… E até chegar aqui…
J.M. – Alguma vez você falou para algum professor da história do Vicente, aqui no curso?
N.F. – Acho que… Que eu lembre, não.
J.M. – Porque a gente ficou sabendo da história do Vicente pelo Hoshino [refere-se a Thiago Hoshino], por um… E o Hoshino também ficou sabendo porque você falou naquele evento, teve um evento na Treze de Maio, que acho que foi 2012, né… E você estava presente, e você falou ali na… que você era bisneto, né… do Vicente.
N.F. – Não, eu acho que aqui não. Eu acho que… Vocês ficaram sabendo pelo Hoshino, né…
J.M. – Uhum. É, e o Hoshino disse: “vocês têm um aluno lá que é bisneto de um dos fundadores da Treze de Maio”, né… Porque… E por que você nunca falou Nei?
N.F. – Acho que eu não tive oportunidade. Acho que era muito… não sei, eu acho que era… não sei.
P.F. – O Magnus foi mais para a Treze, eu acho, né [refere-se a uma disciplina dada pelo professor Magnus Pereira]… Chegou a comentar com ele.
N.F. – O Magnus, sim… É, o Magnus foi para a Treze. Não, eu devo ter falado que ele era, foi fundador, eu devo ter falado, sim. Eu devo ter falado.
J.M. – É, eu fiquei muito surpresa quando eu soube, assim, porque eu estava lá naquele evento, eu estava na mesa, né… Mas eu não sabia que você era aluno aqui, né… Em 2012, você já era aluno aqui em 2012?
N.B. – Não, era em 2014.
J.F. – Então. Então, né… As coisas não se conectaram, assim, imediatamente, né…
P.F. – Eu fui também, fui com a Noemi, eu estava conhecendo também a Treze de Maio, tinha ido uma vez só.
N.F. – Vocês ouviram o que eu falei então?
P.F. – Eu não lembro se foi nesse dia, eu fui no dia que foi passado um documentário e foi lá no Memorial.
J.M. – Mas eu acho que esse dia que o Nei falou, foi o dia que teve uma mesa, não foi?
N.F. – Eu fui no Memorial.
J.M. – É, então não foi nesse dia que eu estava.
P.F. – Eu assisti o documentário, mas eu não lembro das pessoas falando depois. Eu acho que talvez eu tenha saído antes, ou uma coisa assim.
J.M. – Nei, não foi na Treze, não? Na própria Treze lá?
N.F. – É que, assim, que eu lembre, eu achei essa reportagem no Google, né… Sobre a Treze de Maio, aí fui procurar a Treze de Maio no Face Book, daí eu entrei em contato com o Thiago, eu entrei em contato com alguém que me respondeu, eu acho que foi o Thiago, e que me convidou para esse evento, que eu acho que foi no memorial, que foi a abertura do…da Cruz de Salomão, né…
J.M. – Do documentário.
N.F. – Da Estrela de Salomão, né… Acho que foi isso. Foi no Memorial, né… Foi esse evento.
J.M. – É, então eu estou fazendo confusão. Então tá bom, acho que, por enquanto, é isso, Nei. Aí uma hora a gente pode conversar de novo. Se você tiver fotos, se quiser trazer as fotos para mostrar, o Mauricio trouxe muitas fotos legais, você acompanhou, né…
N.F. – Acompanhei, sim. Eu tenho poucas do lado tanto materno, da minha avó materna, eu não tenho nenhuma, né… Eu só tenho da família lá do… Que eu falei, né… Da minha avó, do Mário e dos filhos, só tenho essa.
J.M. – Então, se você puder compartilhar com a gente, eu acho que para a Pâmela, especialmente, né… Porque o Mário é uma…
P.F. – O Mário que eu fiquei bem curiosa, acho que eu não vi foto dele ainda.
N.F. – Você não viu foto do Mário?
P.F. – Não estou lembrada.
N.F. – Eu tenho aqui, mas, quer ver?
P.F. – Quero.
[pausa, procura uma foto no celular???]
[foto 1
N.F. – Eu não consegui aumentar. [mostrando a foto] O Mário está sentado, ao lado da esposa, a menor é a Índia.
J.M. – Ah, a Índia aqui?
N.F. – Meu pai… A Índia, meu pai, o Mário, a minha avó, a Maria, esse aqui é o Olímpio, e esse aqui é o Mário.
P.F. – Onde foi tirada essa foto?
N.F. – Eu acho que foi no Água Verde, foi bodas de ouro, eu acho.
J.M. – É, aqui tem uma cerca de madeira tem um [inaudível] eles colocaram um… fizeram um cenário para a foto. Que bonito, né… Ela está com um ramalhete de flores, tem mais flor aqui, olha. Foi bodas de…
N.F. – Eu acho que foi bodas de ouro.
J.M. – Aham. Ah, Nei, se puder compartilhar essa foto com a gente, seria bem legal.
N.F. – É bem da época, né… Esse estilo, assim, de foto que eles tiravam.
P.F. – Quando será isso? [Anos] Quarenta?
N.F. – Essa aqui é a Nair, a minha avó.
J.M. – A Nair…
N.F. – Mulher do Mário, aquela que está na foto com ele. [pausa]
foto 2
N.F. Essa aqui é o pai e a mãe da Nair, não, é o pai e a avó da Nair.
J.M. – Pai e avó da Nair? E a Nair é mulher do Mário?
N.F. – Mulher do Mário.
foto 3
N.F. – Esse é meu pai, Vicente.
foto 4
N.F. – Quero ver se eu acho do… [pausa] do Mário, sozinho, que eu tinha uma aqui, tá? Acho que essa aqui dá para aumentar.
P.F. – Quem são esses?
N.F. – São os mesmos da outra foto. É a mesma foto, só foi trabalhada a outra, lá. Só foi editada.
foto 5
J.M. – Está bonita essa foto.
P.F. – Uhum. [pausa] E as fotos ficaram com você?
N.F. – Essa aqui é a Nair com o Brito, esse aqui é o General, ele foi General Brito, o Vicente, foi General.
J.M. – Ele é…?
N.F. – Ele é o avô do Maurício. E ela é minha avó.
foto 6
P.F. – Essas fotos do Mário ficaram na sua família, ou alguém passou?
N.F. – Ah, foi passando. Não, ficou com o lado paterno. Eles me passaram.
P.F. – Ah, daí te passaram.
N.F. – É.
J.M. – Quem do lado paterno te passou?
N.F. – O Maurício. Não. O Maurício, não, o André me passou do meu avô, né… Da minha avó e [pausa] e o neto da minha tia, meu primo de segundo grau. Essa foto da família, ali, foi o… Esse aqui, eu não lembro quem me passou.
P.F. – Esse é?
N.F. – O Mário.
foto 7
J.M. – Ah, é o Mário, olha!
P.F. – No correio?
N.F. – Ele era funcionário do Correio.
P.F. – Que linda essa foto!
J.M. – Nossa. Que foto legal!
N.F. – É, eu acho que só tem essas, daí eu te passo. Não tem muito mais antiga, não.
J.M. – Então tá, Nei, obrigada, viu? E aí… a gente… a qualquer momento se você lembrar de alguma coisa e quiser, né… A gente volta a conversar, e a gente também, tá? Obrigada, tá? Eu vou encerrar aqui.
[finalização da gravação]