Ficha Técnica
Entrevistado: Maurício dos Santos Brito
Entrevistadores: Carolina Marchesin, Joseli Mendonça, Nei Luiz Moreira de Freitas e Pamela Fabris.
Local: Curitiba (PR)
Data: 09/11/2017
Duração: 1h 39min 38seg
Páginas: 36
Degravação: Julyane Cequinel Hul
Procedimentos: A equipe obteve autorização verbal de Maurício dos Santos Brito para divulgação da entrevista, sem necessidade de omissão de sua identidade.
Como referenciar:
BRITO, Maurício dos Santos. Entrevista a Joseli Mendonça, Nei Luiz Moreira de Freitas, Pamela Fabris e Carolina Marchesin. Curitiba (PR), 09/11/2017. Disponível em https://afrosul.com.br/entrevistas/
Abreviações
CM– Carolina Marchesin
JM – Joseli Mendonça.
MSB – Maurício dos Santos Brito
NF– Nei Luiz Moreira de Freitas (além de membro da equipe do projeto Afrodescendentes na Região Sul, Nei é primo do entrevistado)
PF– Pamela Fabris
JM: Maurício, essa pesquisa que a gente está fazendo, ela tem a intenção de recuperar algumas experiências de famílias negras em Curitiba. Então, a gente tá entrevistando pessoas que fazem parte, né, que têm famílias negras, que têm lembranças, quem têm memórias desse passado, memórias da história. Mas assim, nos interessa muito a sua memória pessoal, mesmo, as suas experiências pessoais.
MSB: Certo.
JM: Então, é um pouco nesse sentido que a gente vai conduzir a conversa, tá? Então, será que você poderia começar dizendo, pra gente, o seu nome completo?
MSB: Maurício dos Santos Brito.
JM: Você nasceu quando, Maurício?
MSB: 4 de novembro de 1951.
JM: Você nasceu em que cidade?
MSB: Curitiba.
JM: E passou a infância toda aqui?
MSB: Toda em Curitiba.
JM: Você morava… Qual é a lembrança mais antiga que você tem de local de residência?
MSB: Eu nasci no Centro Cívico, ali atrás da prefeitura. Na Rua Vieira dos Santos, que tornou-se depois, Papa João XXIII. É… atrás da prefeitura. Exatamente atrás. Meu pai construiu a casa dele ali, não sei se em 1946, quando ele casou, e ali eu nasci e foi a minha infância, né.
JM: Você passou a infância ali?
MSB: Passei a infância ali. Até os 21 anos, eu morei ali. Sobrou só uma parede, hoje, da casa. (risos)
JM: Você sabe o endereço exato de lá?
MSB: Na época, Rua Vieira dos Santos, 57. Depois, tornou-se Rua Papa João XXIII.
JM: Tá, e… Como era o nome do seu pai?
MSB: Moacir Brito.
JM: Moacir Brito. E o da sua mãe?
MSB: Lígia dos Santos Brito.
JM: E você teve irmãos?
MSB: Duas irmãs.
JM: Mais velhas, mais novas que você…
MSB: Uma mais velha e a outra, mais nova.
JM: Você é o do meio.
MSB: Sou o do meio.
JM: E como é que foi a sua infância?
MSB: A minha infância foi igual a maioria daquela geração. A gente brincava muito, né. (risos) Esse privilégio, que hoje as crianças não tem, né, de brincar em fundo de quintal, brincar na rua, jogar bola e… esses esportes que hoje não existem. Bola de gude e bets, não sei o quê… Então é essa a minha memória, né. De ir na casa dos vizinhos, em quintal com árvore, era assim, né. Na década de 50, 60 era isso. A gente jogava futebol na rua e hoje a gente não consegue nem atravessar aquela rua, de tão movimentada… E era a uma quadra da Cândido de Abreu, e nessa época, nessa memória de infância, em relação ao palácio do governo, né, que havia muita autoridade no palácio. No governo de Moysés Lupion, ele fazia muito banquete, né. Muita ostentação. Mas aquilo parecia normal, né. Então, vinham aquelas motos batedores, né, e a gente ouvia e já ia correndo pra ver quem era, né. E a gente brincava dentro do Palácio Iguaçu, você veja só. A gente entrava lá, subia na “mulher”, a “mulher nua” ficava lá trás (…) A gente entrava lá e brincava. Hoje a gente não passa nem na frente. (risos) Então era isso. Depois veio prefeitura, e já começou a ficar mais movimentado ali, né. E era assim… a memória é essa, de uma infância sem grandes tumultos, né. O tempo demorava pra passar, porque não tinha televisão, então demorava o tempo. O inverno era muito frio. E eu estudava no Grupo Prieto Martinez…
JM: Que é próximo…
MSB: Que é na Nilo Peçanha. Era o grupo mais perto, ali. Eu comecei a estudar lá em 57. Tinha uns dois, três anos esse grupo, ali. Eu ia pra escola sozinho e voltava sozinho. Não tinha perigo nenhum. E uma coisa que é muito importante dentro da minha formação, assim, da minha convivência, né, é essa questão da raça, né. Naquela região, naquela microrregião, moravam famílias descendentes de imigrantes europeus. Então… era descendente de italiano, de polonês, de alemão, basicamente. Eu convivia com aquelas pessoas, né.
JM: E como que era essa convivência?
MSB: Era tranquila pra mim até o ponto em que eles começavam a falar dos avós, das origens. Que uma hora as brincadeiras paravam, né, e vinham “Ah, que meu avô nasceu na Itália, nasceu na Polônia, nasceu na Alemanha…”, e aí eu ficava quieto, né. E agora? Isso era uma coisa que me incomodava, porque eu não sabia de nada da minha origem, né. Como existe um problema aí, na questão da raça negra – Eu já até comentei com o Nei – é uma história triste, né, de sofrimento dos escravos, né. E eu acho que por isso, além do não acesso a essas informações, os descendentes não gostavam de falar sobre essa história. Você vai querer lembrar que teu avô levava chibatada? Ninguém vai querer. “Calava-se” isso, né. Então eu não sabia nada. Então, eu acho que essa geração agora mais recente, que meio que se libertou disso, – e eu vejo o Nei como exemplo disso, sabe? – tirou, realmente, as correntes e tá aí, né. A gurizada tá hoje, com o cabelo “Black Power’’, assumindo a identidade negra e tá tudo bem, né. O próprio governo, de um tempo pra trás, começou a colocar os negros nas propagandas oficiais do governo e existe, né, todo mundo sabe que existe preconceito, existe racismo, mas ele, mais ou menos, ele se … veio mais à tona, veio uma luz em cima disso. Antes não… era meio que obscuro. Então essas histórias aí, que a gente tá resgatando, eu não sabia nada. Somente na parte da minha mãe, a parte do meu pai, já meu pai… pelo fato de meus avós terem sido já… os filhos do Vicente, a filha do Vicente, que é minha avó, a Vicentina, e o filho do José Antônio…
JM: Então o Moacir é filho da Vicentina?
MSB: Da Vicentina, que é filha do Vicente. É cheio de Vicente na família, tenho um tio Vicente. Ainda bem que não me puseram Vicente, senão seria o terceiro (risos). E o Adolfo, que é meu avô…
JM: O Adolfo é por parte de quem?
MSB: Pai, também. Do José Antônio Barbosa de Brito, que também trabalhou com o Vicente na construção dos clubes, tanto do “Operário”, quanto da “13 de Maio”, e que trabalharam na construção da Catedral na primeira fase, não sei detalhes disso…
JM: o Adolfo, então, era casado com a Vicentina?
MSB: Com a Vicentina.
JM: E o Moacir era filho de ambos…
MSB: Exatamente.
JM: Eu tenho muito problema com essa genealogia…
MSB: É, por que vai abrindo. (risos)
JM: Vocês já têm isso claro na cabeça, eu ainda não…
MSB: E aí aconteceu o seguinte, então meu pai comentava um pouco sobre isso, né, por que, faz cem anos. Esse ano, agora, eu descobri recente… o Nei me trouxe o quadro de formatura do Adolfo. Ele se formou em 1917, como professor na Escola Normal, que hoje é o Instituto de Educação, né. Então, meu pai falava um pouco dele, porque eu não conheci nenhum dos meus avós, né, por que eu sou o penúltimo da geração. Meus pais eram os últimos e meus avós… da minha geração, eu sou o penúltimo, então quando eu nasci, já estavam todos falecidos. Não tive nenhum contato. Então existia essa questão assim, de trazer essa informação de que meus avós eram professores e com certeza passaram, né, por umas … é… ascenderam socialmente, né. Filhos de escravos e, de repente são professores. Eu acredito… eu, com muita persistência, muita força de vontade, muita resistência, né … eles foram professores no interior do estado, no sul do Paraná, que não existia o norte e o oeste, também não. Então foram professores em Cerro Azul, em Castro, onde meu pai nasceu, Porto União, que na época era do Paraná, antes da Guerra do Contestado, né, e eu não tenho certeza se em Paranaguá. Então essa história, eu tô com intenção de resgatar, né, por causa desse… da história interessante deles.
JM: Maurício, e essa… você disse que te incomodava, desde criança, essa… esse desconhecimento…
MSB: Falta de saber da minha origem, né… Eu acho que todos têm essa… Por quê que…
JM: E você perguntava em casa?
MSB: Não. Eram assuntos que não tinham, assim , né, muita… Às vezes, surgia, assim… que eu tenho meu tio, né, que era oficial do Exército. Então a gente tinha uma situação de amizade e tal… às vezes eles comentavam entre eles, mas pra nós, também, não era muito grande a importância. Eu era pequeno, né? Queria mais é sair e brincar (…) Incomodava aquele momento que a gente, como criança, parava de fazer as brincadeiras e ficava conversando da origem das famílias, e eu ficava meio constrangido… como é que veio os meus avós, de onde veio meus avós… nesse momento, né.
JM: Você me falou, agora a pouco, que você está aposentado…
MSB: Sim.
JM: Mas está trabalhando, ainda… A gente se aposenta e não pára de trabalhar, é isso?
MSB: É. eu faço um trabalho, um bico numa confeitaria ali no Água Verde.
JM: Entendi. E você trabalhou com o quê?
MSB: O maior tempo que eu trabalhei, eu fui funcionário do Banco Central (…) Depois saí, no meio do caminho…
JM: Certo. E quando que você começou a buscar essa… essas origens, fazer essa pesquisa, que na verdade, é uma pesquisa da história da tua vida, assim…
MSB: Bom, tem um… Isso foi … O viés dessa história aconteceu pela… não pela religião, pela espiritualidade, né. A minha irmã era, ainda é, muito adepta da Seicho-No-Ie, né, e essas culturas, essas religiões, seitas orientais, eles trabalham em cima muito dos antepassados, né, de honrar os antepassados, e isso, na religião católica, o que predomina não é muito (…) nas religiões orientais, eles cultuam muito os antepassados, os japoneses levam comida pros antepassados, né. Então a minha irmã, que estava participando, começou a… “temos que cultuar os antepassados”, falava nisso, e aí eu comecei também a… aí eu também entrei pra Seicho-No-Ie, aí comecei a ir atrás, ir atrás disso. Eu acho que em 2006, eu estive lá na “13 de Maio”, ia ter um evento, uma comemoração, não me lembro…
JM: Mas por que você foi na “13 de Maio”? Porque, de alguma forma, você tinha alguma informação, antes.
MSB: Já, já tinha.
JM: E essa informação vinha como?
MSB: É. A primeira informação que eu tive… o meu pai.. com 15 anos, meu pai me falou, lá no “Operário”, que era… que “tava” lá a foto do avô dele, meu bisavô,
JM: Ele falou pra você?
MSB: José Antonio Barbosa de Brito. A nossa família era amiga da família do Edgar Antunes da Silva, que era o “Tatu”, que foi, muitos anos, presidente do “Operário”. Então…
JM: E você ia no Operário?
MSB: Não, porque eu era pequeno. Não ia pros bailes e não tinha, não tinha…
JM: Seu pai ia?
MSB: Meu pai ia nos eventos, nas festas lá, né, porque a gente era amigo, as famílias eram amigas. Mas eu era pequeno, não entrava.
JM: Então o pai e a mãe iam, mas ainda… você não tinha idade pra…
MSB: Não, pra frequentar, não. Então eu me lembro que meus pais iam…
JM: Mas eu não entendi. Assim… quando teu pai falou da foto, vocês estavam no “Operário”?
MSB: Estávamos no “Operário”. Foi um dia, uma tarde. Não me lembro assim, a situação. Nós fomos visitar o clube, daí ele me mostrou essa foto.
JM: Ele mostrou a foto e disse que era do…
MSB: Do meu bisavô.
JM: Do seu bisavô.
MSB: E aí, em 2006…
JM: E o que que você sentiu na hora?
MSB: Ah, foi… uma foto ali… Tipo assim, aquela foto vai ficar ali pra sempre.
PF: Estava na parede, essa foto?
MSB: Estava na parede.
PF: E tinham mais outras, de outros membros?
MSB: Acho que tinha mais fotos. Mas veja bem, eu tinha 15 anos. Então eu não tinha essa consciência de valorizar a minha história e o meu passado. Os microfocos da minha vida eram outros (risos). Com 15 anos, né… E aí, em 2006, já na Seicho- No- Ie, quando eu fui atrás disso, eu fui lá na Sociedade Operária. Aí, a sociedade já tinha mudado toda a sua característica, já tinha praticamente fechado…
JM: Por que aí você lembrou, né? Da menção que o seu pai fez.
MSB: Sim, sim. Eu tinha guardado na memória isso, né. Aí eu fui lá atrás e tive uma decepção: os quadros não existiam mais, que tinham queimado. E eu acho que não tem registro de foto dele, né?
JM: Do Nei? Do Vicente?
MSB: Do José. Do Vicente, tem. Inclusive, eu estive agora, há duas semanas, e tirei foto do Vicente, lá. Fui lá no cemitério e tirei do Vicente(…) Os túmulos foram… tiraram muitas placas, né? Roubaram, né? É lamentável, porque tem muita gente, família que não tem foto de ninguém, a não ser aquelas fotos de cemitério. E eu tirei… eu já tinha dele, antigamente, mas resolvi tirar outra vez, do casal Vicente e
NF: Olímpia
MSB: Olímpia. Eu tirei, e fiz um retrato pra deixar (…). Não sei se vocês conhecem…
JM: A gente já viu. Mas é sempre bom ver de novo, né?(risos) É lindo né? Eu já falei que ele é parecido com (…)
MSB: Eu vejo assim, dessa postura dele aqui, né, uma seriedade…
JM: Mas você estava falando como você chegou na 13, e eu acho que te interrompi. Você estava falando que…
MSB: Então eu fui na “13 de Maio” em torno de 2006…
JM: Então. Mas que registro que você tinha da “13 de Maio”, antes? Você sabia, também, que ali tinha algum…
MSB: Eu não me lembro como é que cheguei lá… A “13 de maio”, eu não sabia dessa história. Eu não sabia dessa história que tinha sido meu bisavô. Acho que, na minha infância, eu não tinha sido informado. Não me lembro agora, como eu cheguei lá, porque eu cheguei lá. Mas daí, descobriram que tem uma placa lá, né… uma placa de mármore, lá, que “tá” o nome do Vicente como fundador da Sociedade. Aí falei lá, com o presidente e tal, ele disse que ia ter um evento dias depois, mas acabei não indo, eu não fui nesse evento. Aí, agora, no ano passado, quando minha sobrinha esteve aí, que eu fui resgatar outra vez, fui mostrar pra ela, daí que eu soube que o Nei estava fazendo a pesquisa, né… É Nei também… o presidente….?
NF: Álvaro.
MSB: O Álvaro. Ele falou: “Tem uma pessoal aí que tá pesquisando os antepassados, tal.” Daí ele me deu o telefone do Nei, e a gente manteve o contato.
JM: Então você sabia que vocês tinham um parentesco?
MSB: Não.
JM: Vocês se conheceram, então…
MSB: Ano passado.
JM: No ano passado, na busca…
MSB: Eu me lembro do avô do Nei, né, quando eu era pequeno. Que era o tio Mário, né. Meu pai falava “Vamo na casa do Tio Mário”. Eles moravam ali na Getúlio Vargas. Essa é a memória da família do meu pai, por parte da minha avó. Então, eu conheci os tios do Nei, o pai dele. Mas eu era muito pequeno. A gente convivia, às vezes.(…) Nós fomos às bodas, bodas de ouro, dele, eu acho.(…) E depois teve uma foto. Então, você começa a ver a foto em casa, e vai mantendo esse registro, né. Eu tinha essa memória deles, dos avós do Nei, que era o meu último… o tio avô que eu conheci, da família. Minha avó, eu não conheci. Último por parte do meu pai. Por parte da minha mãe, a história é um pouco mais obscura, ainda. Porque eu descobri, também – isso é recente -, que a minha bisavó chamava-se Cecília. Ela teve 3 filhos, de pais diferentes, porque ela trabalhava, não sei se o termo é correto, como mucama, sei lá, coisa assim. Trabalhava na casa das pessoas, assim, da família e nobres da cidade, e provavelmente, ela deve ter sido iniciadora sexual desse povo (risos). Era assim que funcionava, né. Então, o túmulo da minha família por parte da minha mãe foi doação da família Leão, e tinha umas outras famílias nobres aí, que eu não me lembro o nome. Munhoz da Rocha… Eu, se eu for pôr o meu DNA na roda, aí, acho que eu sou herdeiro desse Alto da Glória, aí (risos) Então não se falava muito. Daí, a minha avó foi babá da Dona Maria Clara Leão, que é o nome daquela rua que vai dar no campo do Coritiba, ali. (…) A Dona Maria Clara era casada com o Agostinho Macedo, o dono da mansão dos Leões, ali. Então, (…) na minha infância, muitas vezes, eu fui naquela casa, porque, é… nas férias, a gente ia visitar a Dona “Caia”, que era a D. Maria Clara, que a minha avó tinha sido babá dela. E ela tratava muito bem a minha mãe, porque né, filha da babá, e a gente ia lá, também. Ela tratava bem, e tal. E a gente conheceu aquele casarão, aquilo era uma coisa gigantesca, né, pra crianças de seis, oito anos, né. A gente ia visitar a Dona Maria Clara, que a gente chamava de “Caia”. E o Seu Agostinho de Macedo, que é nome de uma das ruas, acho que tem uma galeria… Então eu tenho memória dessa casa bonita, que virou agora um museu, né. Então a gente ia ali (…)
JM: Maurício, e como que foi, assim, quando você foi buscando as coisas, encontrando? Como você se sentia em relação a isso?
MSB: Ah, acho que isso te dá um… melhora, né, a tua auto-estima. Você sabendo da tua história, né. Isso te dá um…
JM: Você tem fotos da família?
MSB: Da minha família?
JM: É
MSB: Muitas. Muitas fotos. Eu tenho álbuns, assim, mas meu pai, ele era… Meu pai gostava de tirar fotografia, gostava de viajar, essas coisas todas, né. Meu pai sempre foi muito aberto, né. Assim, eu acho que uma das coisas que marca, assim, o meu pai. Eu via muito isso com outros negros, mas com o meu pai, eu não via. Assim “Ah, lá não é o nosso lugar!”. Isso existia, e acho que isso existe até hoje. Essa baixa auto-estima, né. Porque é um massacre, né.. Você, toda hora, sendo colocado submisso, né. Tá no nosso DNA também, né, essa baixa auto-estima. Mas o meu pai nunca colocou isso, nunca falou “Ah, não vamo lá, porque…”. Tanto é que meu pai é um dos fundadores do… Eu estive agora, dez dias atrás, fazendo uma entrega no “Santa Mônica”, que é um clube de classe média alta, né. E que o fundador é o Jofre Cabral e Silva, que trabalhou com o meu pai na Caixa Econômica. Então ele falou “Ah, Brito, Você tem que entrar. Tem que levar teus filhos lá”. Meu pai era fundador do “Santa Mônica”. E é uma coisa, assim, que sempre me marcou, né. Por essa posição, de certo ponto, não confortável, mas… Eu estudei, assim… Sempre eu era o único negro na minha turma. Eu estudei no Colégio Militar(…) Depois comecei a trabalhar no Banco Central, tive uma situação economicamente estável, né, e até hoje, às vezes, eu vou nos lugares, e … restaurante, cinema, show(…) eu vejo pouca presença do negro ao meu lado, né…
JM: E quando você diz assim, por exemplo, você era o único negro na classe. Provavelmente, você trabalhava com poucos negros, também. Tem poucos negros do teu lado. Como é que é, como é que era essa relação? Havia algum momento de hostilidade, ou que você sentia que tinha.
MSB: Não, nunca houve hostilidade, assim, aberta, né. Nunca. Só uma que vez que o(…) aquelas coisas de criança de roubar fruta na casa de vizinho. Eu nunca fui de fazer isso, mas um dia eu fui atrás e fiz, e o vizinho que era militar falou “É. Tinha que ser você!”, e eu nunca tinha entrado na casa dele. Acho que o cara “tava” de olho, né? (…) única vez que eu entrei. Ele marcou, né. Mas eu vejo uma coisa. Por exemplo, existe uma cobrança em cima, você não pode errar. Existe aquela coisa, né, aquele velho ditado “Isso é coisa de negro”. Agora até surgiu essa coisa com o William Waack, né. Não sei se estão acompanhando isso…
JM: Eu tô completamente “desantenada”…
MSB: É. O William Waack foi demitido do Jornal da Globo, saiu agora, hoje, ontem.
JM: Ontem?
MSB: É, é. Por que gravaram um vídeo em off, lá, ele tava na eleição do Trump, lá. E “tava” numa esquina, e passou um carro buzinando, e ele fala, dizem que ele fala isso, né. O cara buzina e ele “Ah, isso é coisa de preto!”. Ele fala isso. Mas parece que na gravação não tá claro, isso. (…) Então tenho isso muito existe, né. Essa questão de “coisa de negro”, né. “O que não fez na entrada, fez na saída”. Isso eu ouvia muito. Mas, diretamente comigo, não, mas eu vejo, assim, que por outros caminhos, existia um preconceito.
JM: … Com outras pessoas, você percebia? Você disse que não teve tanto com você, mas você percebia, assim, com outras pessoas negras, se isso acontecia? Porque, assim, o que dizem, né, Maurício… Eu nem sou de Curitiba, né, não sei como é que é essa cidade. É que essa coisa do racismo, do preconceito, é uma coisa disseminada…
MSB: É velado, né?
JM: Aqui em Curitiba… Velado… mas acontece, né? E que em Curitiba isso talvez pudesse ainda ser mais forte, pela presença europeia forte e tal. Assim, você não percebia isso?
MSB: Não senti isso. Mas existe uma cobrança, assim, não muito clara de que você não pode errar. Eu via no Banco Central, algumas coisas. Às vezes eu dava um vacilo e a cobrança comigo era maior. Depois eu fui, né (…) Mas, assim, abertamente, não. Na minha infância, eu nunca tive problemas. Eu sempre entrei nos lugares. Convivi, assim, um período da minha vida, por várias razões, com pessoas… não da nata, mas da alta sociedade. No Clube Curitibano, que hoje é um clube famoso, né, de pessoas que eram filhos de médicos, de colegas de colégio, amigos, né? Eu convivi, né, dentro de um padrão social, assim. Não participo desse meio social hoje. Mas me olhavam, não sei se gostavam ou se não gostavam, mas eu estava lá. Uma vez me perguntaram, a primeira vez que fiz uma viagem por exterior, Eu fiquei bastante tempo. “É. você não tem medo de racismo, né? Quando você for pra fora do Brasil, né?” Eu falei: “Não, eu não tenho medo do racismo, porque aqui na esquina tem”.
JM: Você viajou pra onde?
MSB: Eu fiquei um bom tempo, na primeira vez, na Europa, né? E tem uma definição, uma visão, assim, interessante. O que… Aqui(…) os alemães, né, são muito… são mais resistentes às diferenças. Mas eu observei que lá na Alemanha, não. Então, eu acho que eles, depois da guerra, tiveram que reconstruir o país, foram dominados e perderam aquela arrogância, né. Mas os daqui, os que mantiveram nesse padrão de raça ariana… Você vai pro interior, principalmente do Rio Grande, eles são meio… são racistas. A Itália tem problemas. Na Itália, eles têm um racismo mais extensivo. Eu vi isso, comigo não aconteceu muito, mas assim, eu ia… ficava em albergues da juventude, né, e tinha … isso na década de 80, talvez esteja pior, não sei, algumas manifestações, não sei, contra os marroquinos, né. Tinha muito africano, lá. Os italianos não deixavam por menos. E os italianos são muito, como eu vou dizer, “tutti i ladri”, né. Se bobear, eles te roubam na conta do restaurante, assim. A Itália tem, ela tem racismo ostensivo. Na Alemanha, não, na França, não. Por que na França tem a imigração… os países em colonização francesa tem os mesmos direitos na França, né? Então há uma convivência mais pacífica, né. Mas na Itália… Estados Unidos, eu nunca fui, que é um racismo mais ostensivo. Tanto é que nos anos 60, os negros não podiam usar o banheiro deles, e ficavam lá no fundo do ônibus, né. Aqui no Brasil nunca teve isso, mas lá nos Estados Unidos tem isso. Eu nunca fui lá.
JM: Maurício, e essas fotos que você disse que a sua família tem… é… seu pai tirava fotos e registrava a família de vocês, né?
MSB: sim
JM: Mas ele guardava fotos antigas? Foto dos pais dele?
MSB: Não, não tem. Agora, inclusive, eu não tinha fotos dos.. você que me passou né, Nei? Não tinha foto dos meus avós. Eu tinha umas fotos em casa e que desapareceram, do meu avô. Aqui na Rua XV, né, fazer “footing”, né. As pessoas iam passear na XV, era a diversão da noite, né. Não tinha outra coisa pra fazer, e as pessoas iam passear, ver vitrine ali na Rua XV. E sempre tinham as pessoas tirando foto, né. Então, eu tinha do meu avô, ele sempre muito elegante e tal. Depois, se perdeu em casa. Agora o Nei me passou a foto do meu avô e da minha avó. Ele de smoking, muito chique e elegante. Meu avô era tão chique que morreu no Rio de Janeiro, no hotel (risos). E eu vi umas fotos dele com o meu tio, na formatura do meu tio na Escola Militar. Muito rígido, meu pai falava isso, muito… Criança era criança, não podia sorrir, não podia (…) comia… a primeira mesa era das crianças, e lá ficavam quietinhos, não podia repetir a sobremesa, tinha que dormir cedo, né. Então essa era uma coisa que meu pai falava (risos). Que era muito rígida a educação deles, né. Mas, fotos não têm. Então, eu tenho fotos mais ou menos a partir do casamento do meu pai, aí pra cá, né. Da minha infância, tem bastante coisa. Eu tenho bastante foto, bastante registro assim. Meu pai gostava de sair, de viajar. Pra você ter uma ideia, em 1953, eu tinha dois, três anos. O meu pai pegou um carro. Em 53, hein. Fomos pro Rio de Janeiro. Um carro inglês, que eu acho que levava uns quatro dias pra chegar no Rio. Olha só, eu não tenho memória disso, né. Só sei que eu fui pro Rio de Janeiro. Com três anos, já estava em Copacabana, que era o “must”, o chique. Que em Copacabana, né. Tudo acontecia em Copacabana. A minha mãe sempre falava “Ah, você não deixa eu tomar banho em Copacabana!” Ela foi entrar no mar, e eu não deixei ela entrar, fiquei chorando (risos). Depois, a minha primeira memória do Rio de Janeiro foi em 1966, daí tem fotos, fomos ao Rio de Janeiro, fomos a Petrópolis, no Museu do Império. Daí, eu já tinha 15 anos. Aí foi a primeira viagem que eu me lembro do Rio de Janeiro, que era… até hoje, né, o Rio de Janeiro fascina as pessoas, né. Na época, mais ainda. Era capital.
JM: E é uma cidade linda, né?
MSB: Depois, em… Não, antes de 62, meu pai estudou no Colégio Militar de Porto Alegre.
JM: Onde?
MSB: No Colégio Militar de Porto Alegre. E é um fato, assim, interessante, porque os meus avós, eles investiam na educação. Era importante a educação, eram professores, né? E foram três filhos homens, e os três eles colocaram no Colégio Militar de Porto Alegre, para estudar. Meu pai comentava isso, que eles passavam por dificuldades, por necessidades aqui, pra manter esses três filhos, lá. Literalmente, eles comiam pão com banana. Porque não tinha.. era colégio público, mas tinha que manter, com uniforme, não sei o quê, né. E eles iam uma vez por ano, pra lá e ficavam o ano inteiro e iam só uma vez por ano. Qual era a logística da história: eles saíam daqui de trem pra Paranaguá, pegavam um navio, que era chamado vapor. E eles iam a Santa Maria, a Rio Grande, e de lá, eles iam pra Porto Alegre. E faziam isso uma vez por ano. E imagina. Hoje, para Porto Alegre, você pega um vôo, e daqui 40 minutos, você “tá” lá. Agora, se pegar um trem daqui, acho que leva quase uma semana. Então eles tinham essa fé, essa disposição de dar educação pros filhos, né, e eles sabiam que isso era importante, né. Então isso valorizou, né. Eu honro isso, né. Procuro ser grato a eles porque isso chega, chegou a mim também, né. Com o passar do tempo, chegou. Eu sou fruto desse processo, também. Então esse conhecimento da história dos meus avós é o mais claro, é a partir daí que eu tenho mais conhecimento (…)
JM: Você… Por exemplo, na família do teu pai, você chegou até o Vicente, que é o mais antigo ascendente seu, né?
MSB: O Vicente e o José Antonio Barbosa de Brito, que é o pai do meu avô. Pai do Adolfo. É essa informação a mais que a gente tem.
JM: É José…
MSB: … Antonio Barbosa de Brito.
JM: E você chegou …
MSB: Não sei de onde vem esse “Brito”. Provavelmente vem de portugueses, né? Não sei a história dele. A gente não conseguiu muita informação.
JM: E da tua mãe, você também conseguiu recuperar?
MSB: A da minha mãe, pouca coisa, né. A minha mãe, ela… só a minha avó e o meu avô, né? E tem outro detalhe: a minha mãe é… os meus avós por parte da minha mãe se separaram. Minha mãe era a caçula. E a minha avó morreu quando a minha mãe tinha dez anos. Então, praticamente, ela foi criada pelo tio dela, que era um desses três irmãos da minha avó. Eurides, um eu esqueci o nome e tem o outro, Eupídio. Esse tio da minha mãe, que ela foi morar, era casado com uma mulher que chamava-se Maria Tereza, que era tia, né? E essa mulher era uma matriarca da história toda, por que ela fazia… ela era doceira. E ela era doceira da alta sociedade curitibana. E aqueles casamentos, festas dos nobres, aí, não era pouca coisa, né. Eram coisa, assim, gigantescas… Minha mãe contava umas coisas… Era tudo feito manualmente, tudo feito no fogão de lenha, não tinha geladeira. Então, que acontecia, virava as noites pra fazer as coisas. E minha mãe foi morar aos dez anos, com essa família. E aí uma coisa que eu acho que foi negativa na história toda. Ela estava lá de favor, né? “Vem aqui, morar”… tendo que trabalhar… Minha mãe, tinha umas horas que ela guardava uns ressentimentos, assim, desse período, sabe. Guardava assim umas certas mágoas, porque… não era filha, mas tinha que pôr a mão na massa. Aí depois, ela casou com o meu pai, uma situação econômica estável. Meu pai já trabalhava na Caixa Econômica. Então ela se libertou da história, né. Então, isso marcou, assim… E uma certa mágoa, também, porque o meu avô abandonou a minha avó, por outra mulher. Então a minha mãe não falava muito com o meu avô. E aí eu não sei mais nada desse meu avô Olímpio. Não sei mais nada deles. Tinha uma foto 3 x 4, minha mãe tinha, mas… E aí tinha, por parte da minha mãe, um irmão que morreu com 19 anos e mais dois. Mais uma mulher e um homem, que não tiveram muita… convivência. A gente não teve muita convivência com eles, não. Tanto é que eu não sei se meus primos, por parte da minha tia são vivos, ou não. Não, uma prima “tá” viva. Mas a gente não sabe muita coisa deles.
JM: Maurício e quando você saiu, ali, dessa casa no Centro Cívico, você foi morar onde? Você saiu por que? Se mudou todo mundo?
MSB: Aí tem uma história familiar. É um problema. Meu pai era da Caixa Econômica e meu tio era oficial do Exército, e o irmão mais novo sempre tinha que acatar as ordens do mais velho, né,(risos). Essa coisa sempre existiu. E meu pai trabalhava na Caixa Econômica, tinha fácil acesso aos empréstimos e financiamentos(…) e meu tio, embora fosse oficial do Exército, ele tinha uma… ele era um pouco esbanjador, assim, meio “descomunado” nas coisas, e , num certo momento, meu pai foi avalista do meu tio. E aí a coisa desandou, porque ele não pagou. Meu pai era o avalista, e a Caixa Econômica, né, veio em cima do meu pai. Aí, o que aconteceu, meu pai estava com 32 anos de Caixa Econômica, um funcionário exemplar, nunca ocorreu nada com ele, tinha cargo de chefia. E a Caixa Econômica cortou os cargos de comissão dele. Foi péssimo isso, pra ele, e pra nós também, como consequência, né. E aí, nós perdemos patrimônio, tudo. E aquela casa foi à venda, e depois, meu pai entrou com um processo na Caixa Econômica, contra a Caixa Econômica, pela perda do cargo de comissão. Por lei, ele tinha direito a levar uma aposentadoria, mas demorou muito tempo. Foi uma história que parecia que nunca tinha fim. Aí nós fomos morar lá no Juvevê. Ali perto da Fundepar, onde tem a Imprensa Oficial e onde tem o Arquivo Público, né. Nós fomos morar ali. Foi horrível, por que eu nunca tinha morado em apartamento…
JM: Ali era apartamento?
MSB: Ali era apartamento. Eu morei ali, e dali eu… a família ficou ali, quando me estabeleci financeiramente, já concursado no Banco Central. Aí eu saí de casa. Minha família ficou morando um tempo, ali.
JM: E essa coisa das histórias de família que se conta em casa… elas, às vezes, são interessantes. Como é que foi, depois, o “teu” encontro com o Vicente? Depois que você foi… Porque… Aí você foi na “13 de Maio”, ficou sabendo, né? Você “tá” falando assim, né. Quando você buscou essa coisa da origem, você lembrou que teu pai tinha mostrado, e aí… A impressão que eu tenho é que você foi reconstituindo a história, né…
MSB: É. Mas daí eu valorizei mais, né…
JM: Qual que é a história que você sabe do Vicente? O que você foi… o que você foi sabendo dele?
MSB: É… Que ele foi um dos fundadores da Sociedade, né. Daí até o Nei tem a certidão de casamento dele, né. Essas coisas… Onde ele morava, né, na Saldanha Marinho. Isso eu não sabia. Os meus avós moravam na Saldanha marinho, mais lá pra cima, mas eu não sabia que ele tinha nascido lá(…) Mas o fato maior, assim, que mais marcam em relação, pra mim, ao Vicente é o fato dele ter sido fundador desses dois clubes. Isso quer dizer que ele era uma liderança na sociedade. Isso eu acho que é o mais importante, né? Tanto ele, quanto o José Antonio, que é meu outro avô. Então eram duas pessoas líderes dentro da sociedade curitibana. Então, isso pra mim, é muito… muito interessante. E eu falo isso pras pessoas, quando eu encontro, as pessoas: “pois é, né, o teu avô…”. Eu sou descendente de gente importante(risos).
JM: Você fala isso na sua família?
MSB: Não. Na minha família. Fora da família, pros amigos.
JM: Mas na família, você fala?
MSB: É. Minha família, hoje, é reduzida, eu e minha irmã mais velha, né. Então esse é o nosso círculo, né(…)
JM: Que, para ela, também é importante, né. É a irmã da Seicho- No -Ie…
MSB: É. A minha irmã, talvez ela tenha mais detalhes, porque ela é mais velha que eu. Três anos. E minha irmã tem uma memória, assim, “de elefante” (risos). É impressionante. Minha irmã tem uma memória boa, de fatos, né. Às vezes, ela tem memória(…). Lógico, por ela ser… ter.. ser três anos mais velha, ela tem mais memória. Mas ficou, assim… E aí, a minha irmã mais nova, que é mãe da minha sobrinha, faleceu, agora, há dois anos. E a minha sobrinha ficou sabendo disso, agora, recente, né. Então, eu falei pra ela, contei e tal, mas eu comento com as pessoas, né, no dia-a-dia, assim. Quando tem um fato, eu comento, né? E uma pessoa que não é minha parente, não é da minha família, mas é como se fosse, não sei se vocês conhecem, é Enedina Alves Marques. A Enedina era assim, tachada, tachada no sentido positivo (risos)… Em casa, quando se encontravam, meu pai fala “Ah, minha irmã de criação… a “Dininha””. A gente chamava ela de “Dininha”. “A “Dininha era minha irmã de criação”. Então ela foi madrinha da minha irmã mais nova, a gente conviveu. Tem fotos com ela, acho que eu tenho fotos da minha infância com ela. Ela era, assim, uma pessoas da relação da família. Eu acho que ela conviveu mais com a minha família, com meu pai e com meu tio… acho que até que mais que com os irmãos dela. Uma relação muito próxima.
PF: Vocês moravam próximos?
MSB: Ela era… Eu acho que a mãe dela era amiga dos meus avós. Eram amigos, assim. Não sei exatamente como.
NF: da Vicentina?
MSB: Eu acho que sim. Era conhecida como… Como é que chamava ela? Não era Nhá Cinduca, era Nhá alguma coisa, que chamava a mãe dela. Não sei. Mas a gente tinha… E quando passa fotos aí, descreve fatos no jornal, não sei o quê, eu falo… “Olha… essa pessoa…”.
JM: Você sabe que tem um aluno aqui do curso de História, que fez um trabalho sobre a Enedina? Uma espécie de uma pequena biografia dela, contando a História dela… bem bonitinho.
MSB: Ela era uma pessoa muito, assim, marcante, né, na nossa relação social, assim. Era como se fosse, praticamente, a minha tia. E ela era muito forte, né. Uma personalidade muito forte. E ela chegava em casa, e ia jantar com a gente, e era uma (…) Ela contava as coisas, e a gente, criança, é, ouvia aquilo, né. Prestava atenção.
JM: Você lembra de alguma coisa que ela contava, assim?
MSB: Ela contava as coisas lá da… Ela trabalhou na construção dessa hidrelétrica aqui do… Capivari-Cachoeira. Então ela contava as coisas dos capatazes. “Ah, porque fulano, não sei o quê…”. Ela pegava pesado com o povo (risos). Imagine, mulher negra no meio dos peões, lá imagine se os caras não queriam deitar e rolar em cima dela. (risos) Aí depois, as viagens dela, quando ela se aposentou, né. Ela trabalhava… Era “Força e Luz”, né? Antes da COPEL, né, antes da “Força e Luz”. Aí, depois ela se aposentou e levou uma vida de madame, né. Viajava pro exterior, aí. Daí, ela contava as viagens, as amigas, não sei o quê… (…) Clube de Soroptimistas, que era uma entidade de mulheres, né?
JM: Não conheço…
MSB: Não conhece? As Soroptimistas. Era uma entidade bem conhecida uma época, aí.
JM: Como que chama?
MSB: Soroptimistas. Tem um “p” mudo, aí. Sociedade Soroptimista. Uma sociedade internacional de mulheres executivas, né. Soroptimistas. Tem um final… É, foi meio triste a história, no final. Ela morava num edifício ali na… perto da Boca maldita, e ela foi encontrada morta. Ela teve um infarto, né. Eu estava em Londres, e minha irmã mais nova foi me visitar, lá. Aí, de repente, minha irmã chega. Minha irmã era afilhada dela. Minha irmã chega: “Oi, tudo bem? Tenho uma notícia ruim pra te contar.”. Nem falou a notícia, abriu a mala e me mostra o jornal, esses jornais… não era a Tribuna, era aquele outro, Diário Popular. Mostrava a foto dela, né. Daí ele já colocaram sensacionalismo em cima, “encontrada morta, Engenheira”, e já achavam que foi assalto, não sei o quê, que foi estuprada… E eu morava num lugar em Londres, que eu passava diariamente em frente desse clube, desse clube Soroptimista, na sede de Londres. E eu lembro: “Nossa. Dona “Dininha” falava sempre desse clube’’. E eu tô passando aqui na frente. Daí minha irmã chega, um tempo depois, com esse jornal.
JM: Quando que ela morreu?
MSB: Acho que em 81. Acho. Por aí. É em 81, porque eu lembro que estava em Londres em 81, 82. Lá pelo mês de outubro. Mas ela é uma pessoa muito marcante na minha infância. Foi uma pessoa muito interessante de conhecer e de conviver, né. De ouvir as histórias dela, de romper, né, com uns tabus e preconceitos. Era uma feminista sem saber que era, né. Não levava a bandeira, mas agia no dia-a-dia, muito mais do que essas que ficam gritando pelas ruas, aí. Ela foi uma pessoa… Acho que a universidade ficou de dar o nome desse campus aqui, né?
PF: Tem umas pessoas… Aqui no pátio da reitoria, tem uma proposta de colocar o nome dela, né?
MSB: Não era esse aqui da João Negrão? Esse aqui da rede antiga?
PF: Esse, eu não sei. Só sei o daqui da reitoria, que tem essa proposta, né.
MSB: É tipo aqui o… Pátio Suplicy de Lacerda. (risos)
NF: … De Lacerda.
MSB: Que tinha a estátua (…) Faleceu a filha do Flávio Suplicy de Lacerda, dez dias atrás. Eu conheci ela, convivi com ela, porque era mãe de um amigo meu do colégio. E a casa do Flávio Suplicy era do lado, ali na 7 de Setembro. Eu conheci ele, não muito, assim, mas… Todo mundo tinha muito (…) Ele foi ministro da Educação da…
JM: No regime militar.
MSB: … do regime militar. Ele foi ministro da Educação. Castelo Branco ficou uma vez na casa dele. Na casa do Flávio, Flávio Suplicy de Lacerda. Que era avô do meu amigo, o Plínio, Plínio de Mattos Pessoa. E esse círculo social, eu convivi, né, uma época com eles. Ela faleceu agora, recentemente. A Maria Augusta, filha do Flávio Suplicy de Lacerda.
JM: E como é que foi quando a sua sobrinha veio? Porque ela, quando veio pra cá… Eu imagino que ela tinha muita curiosidade, né, de saber da família?
MSB: É. Bom, primeiro que a história da minha sobrinha é meio trágica, né. A minha irmã casou na Suíça com um húngaro. Se conheceram lá na Suíça.
JM: A sua irmã mais velha?
MSB: A minha irmã mais nova. Essa que faleceu. Estaria hoje com 63 anos. Ela conheceu um húngaro, casaram lá e vieram pra cá. E aqui, ela teve minha sobrinha. Minha irmã estava com 40 anos, já, quando teve a filha, e estavam aqui(…) as coisas não estavam dando certo. Eu não sei esses detalhes, mas eles se separaram e ele foi embora. Ele voltou pra Europa. Não sei se pra Hungria, ou pra Suíça. E minha irmã ficou com a filha aqui. Diz ele que a minha irmã estava escondendo a filha e tal, não sei o quê. E minha irmã teve a má ideia de um dia, levar a menina pra Hungria, pra mostrar pros avós, pais dele. E lá, eles sequestraram a minha sobrinha. Agora você imagine a minha irmã, no interior da Hungria, sozinha, no inverno. (…) As malas estavam na porta da casa dela. E aí, não falava húngaro, não sabia a quem recorrer. E aí, a coisa pegou, né. Daí ela foi atrás de Consulado Brasileiro, da Embaixada Brasileira, e não resolvem nada. Não resolvem nem aqui, imagine lá fora. E ficou nessa história anos e anos. E foi pra ONU, e não conseguiu reaver a filha. Isso resultou, né, em solidão, medo, mágoa. Até que teve dois processos de câncer linfático, e faleceu há dois anos atrás. E aí, minha sobrinha, eu não tinha contato, começou a crescer. Daí, em 2006, ela precisava… daí ela voltou a morar na Suíça, porque estaria mais perto dessa história toda. Aí, em 2006, eu estava morando em São Paulo, numa comunidade, e ela pediu pra eu ir ajudar, porque ela tinha tirado o útero, por causa de câncer. Estava com uns pontos e precisava ir pra Hungria. Não tinha quem carregasse as malas dela, literalmente. Por que lá, cada um tem a sua vida, independente. Daí fui lá, fui conhecer, né. Reencontrar com a minha sobrinha, porque ela morou aqui até os dois anos e meio.
JM: E quando você reencontrou, que idade ela tinha?
MSB: Foi em 2006. Ela “tava” com… ela é de 95. Ela estava com 11, 12 anos.
NF: Onze.
MSB: E aí, foi horrível, porque era no interior da Hungria. Tinha uma advogada da minha irmã lá na Hungria, e a mulher não pedia… que minha irmã tinha que pedir autorização pro juiz, sei lá quem, pra ver a filha. E ela não fez isso. Em resumo da história, eu vi minha sobrinha 15 minutos. Saí daqui do Brasil, pra ver minha sobrinha por 15 minutos. E aí teve o julgamento lá, do divórcio deles. Eu participei, fui lá ver. Aí o meu cunhado me colocou como testemunha e tal. E daí, eu tive dar um depoimento lá. E a história foi assim, né. Foi enrolando, enrolando, e não resolveu. Daí, minha sobrinha ficou adulta e tal. E aí, minha irmã veio pra cá, nesse vai-e-vem. Vai pra Europa, volta pra Europa. Daí ficou aqui. E aí, começou a ter… Já teve um câncer… que foi linfático, em 2013, lá na Suíça. E aqui, voltou em 2015. E o povo falava já da minha sobrinha, era um assunto que… Foi triste, muito triste. Minha única sobrinha. E aí foi se agravando. Ela foi pro hospital e entrou em coma, teve convulsão. E aí, quando ela estava em coma, eu descobri que a minha sobrinha estava estudando português em Fortaleza. Imediatamente, eu liguei pra ela e falei: “Ó. tua mãe tá mal. É bom que você venha vê-la”. Eu liguei de manhã, e na manhã seguinte, ela estava aqui. Eu conheci ela com 15… Eu encontrei com ela com onze anos, ela estava com 20, já. Adulta. Daí, a minha sobrinha foi na UTI, ver a minha irmã, e nessa mesma noite, a minha irmã faleceu. Estava meio que esperando a filha. E aí, ela voltou pra Fortaleza, e já estava agendado, ela fazer curso aqui na Universidade. Daí ela passou o natal, as festas aí em São Paulo, com uns amigos do pai dela, uns húngaros. Aí ela veio pra cá em março. Daí que eu comecei a sair com ela, e mostrar as coisas…
JM: Aí você mostrou as coisas da cidade…
MSB: Mostrei as coisas da família, né. Aí que eu fui lá bater na “13 de Maio”. E a gente teve os seus contatos, né. Daí ela ficou esses três meses aqui em Curitiba.
JM: E ela já falava português, assim?
MSB: Sim. Ela falava… Ela estava falando bem. Ela estava estudando em Fortaleza e fez mais três meses aqui, né. Ela tá assim: ela fala inglês, ela fala húngaro, que é o idioma que ela foi… praticamente… desde os dois anos, né? Fala alemão, que o pai dela é professor de alemão, fala francês e português. Tá pronta pra ir pra ONU (risos). Ela é bonita, é alta, e ela gostou muito daqui, né. Nasceu aqui, né. Gostou muito daqui. Reclama um pouco do frio, né. Ano passado fez muito frio, aqui. Mas reclama do frio mais porque ela estava morando em uma casa, e lá não tem esse problema, né. Lá, você entra em casa e tá quente. Aqui, não. A gente entra em casa e parece que tem que pôr agasalho, às vezes. E não tem calefação. Lá, tem. Então, ela reclamou desse problema. Mas do frio em si, ela não reclamou. Mas ela gostou muito.
JM: E em relação à família, ela tinha curiosidade, assim?
MSB: Sim, quando eu comecei a falar da família, eu senti que ela queria conhecer, né, um pouco da origem dela, né.
JM: Quer dizer que, na verdade, era a mesma carência que você tinha quando criança. Ela, de alguma forma, tinha também.
MSB: É, mas de uma maneira diferente. Essas informações não tinha. Ela veio… foi retirada desse meio, por isso que ela não tinha as informações, né. Porque ela não sabia nada, ela sabia pouca coisa. De… talvez o pai dela falasse, né, de mim e da minha irmã, e tal. Ela não conheceu. Porque ela nasceu em 95, em maio, e a minha mãe faleceu dois meses depois. Então ela não conheceu os avós dela, também. Lá, acho que ela conheceu os avós dela. Então aqui, ela, praticamente, começou do zero, né.
JM: E que tipo de curiosidade ela tinha?
MSB: Ela se interessou em conhecer. “Vamo lá na sociedade? Ah, vamos!”. Vamos fazer um…
JM: Aí, você já sabia, né? Da sociedade, da participação…
MSB: Sim. Mas aí que eu fui atrás, né. Para mostrar a Sociedade pra ela, a história. Ali na Rua Saldanha, a casa dos meus avós, que não existe mais, mas era ali. Eu mostrei pra ela. Eu não cheguei a ir, não sei quem levou, acho que o padrinho dela mostrou onde ela nasceu, ali naquela maternidade, ali na Visconde de Guarapuava. Então a gente foi… eu fui mostrando a cidade pra ela, fui na Catedral com ela , atrás de fotos dos tataravós dela. Não tinha foto nenhuma, né. Não tem nada na Catedral, acho que tá tudo na Fundação, ou no Arquivo, né. Ela ficou sabendo, né. “Olha, essa igreja aqui, os seus tataravós trabalharam aqui”. Agora tem que falar da “pentavó” dela, a Matildes. É ‘’pentavó”?(risos). Olha que interessante. Eu não sabia da existência da minha tataravó, da Matildes. Ela não sabe disso, mas vou falar pra ela que a gente identificou a “pentavó” dela.
JM: Que é a mãe…
MSB: Do Vicente.
JM: É… Você ouviu alguma vez, na sua família, que o Vicente era africano?
MSB: Não. Não tenho nenhuma informação da origem dele, não. Tem alguma suspeita?
NEI: É do lado dos Freitas….
MSB: Essa pergunta?(risos) Existe isso? Existe essa suspeita, ou não?
NF: Existe uma história que foi contada.
MSB: Ah, que ele era africano.
NF: Agora, documentado, não.
MSB: Tem uma… acho que vocês sabem disso, que tem um americano, lá. Um instituto, sei lá como que chama. Ele pega o nosso DNA, o nosso sangue, e ele tem mapeado, lá na África, né. Então você sabe, lá, de onde você veio. Mostrou isso na televisão, o pessoal que foi da… da Bahia, foi lá visitar as tribos, lá. Um dia, eu vou fazer isso, também. Só ter um pouco de dinheiro, só (risos). Mas eu queria, antes, começar aqui, né. É a pesquisa que eu quero fazer do meu avô. Do…
JM: Do Adolfo.
MSB: Dos dois, né. Dele e da Vicentina, né. É uma história que me atrai muito. Ir atrás disso aí, né. Ir nessa… aqui no sul do estado. Percorrer essas cidades, aí, saber…
JM: Por que eles, de fato, eles andaram bastante, né?
MSB: Sim. E daqui a Cerro Azul, não era fácil. (risos)
JM: Você falou vários lugares, né?
MSB: Cerro Azul, Castro… Acho que Paranaguá, eu não tenho certeza, mas Porto União… Eu me lembro quando eu tinha uns 8, 10 anos, eu fui a Porto União, e meu pai me levou num senhor lá, que era amigo dos meus avós, né. Em Porto União. Que Porto união era Paraná, não tinha as duas cidades, era uma só, né. Então, na época, não tinha… Meu pai me levou, lá, num senhor, ele conhecia um senhor contemporâneo dos meus avós. Lá em Porto União. Então, é uma cidade que eles viveram lá. Então é Cerro Azul, Castro… meu pai nasceu em Castro. Em Castro tem um grande núcleo quilombola lá, né. Porque existia parece que…
JM: É o Paiol de Telha, que é de Castro?
MSB: Eu não sei. Parece que tinha uma… “era” umas freiras, né. Ela recebiam… elas acolhiam os escravos, né. Tem umas coisas assim, de um convento, lá. Lá ficou um foco grande. Eu nunca estive lá, mas…
JM: O que eu conheço de lá, é uma fazenda que era dos Carmelitas, que depois foram embora…
MSB: É! Carmelitas!
JM: Eles eram [frades], assim. Eles foram embora… e os escravos ficaram lá, tocando a fazenda.
MSB: Acho que é isso aí.
JM: Tem alguns relatos que dizem que alguns deles saíram dali, se estabeleceram em outro lugar, e que…
MSB: Então, os meus avós, pelo fato de terem morado lá, meu pai nasceu lá em 1916.
JM: Ele nasceu lá, então?
MSB: Ele nasceu lá. Embora tenha sido registrado depois, com dois anos a menos. Os dados oficiais do meu pai são de 1918, mas ele nasceu em 1916.
JM: Você tem ideia por que que eles passaram por tantos lugares?
MSB: Não. Mas acho que isso era normal, né. (…) Não sei se não tinha espaço pra eles aqui, ou eles gostavam de sair por aí. Não sei se era normal isso. Início de carreira…
NF: Acho que era normal, porque a minha mãe, em início de carreira, também. Foi mandada pra Cruz Machado.
JM: É. A minha mãe, também, lá em São Paulo. Quando começou a lecionar, foi longe.
MSB: É. Acho que essa era uma coisa comum, né.
JM: Por que foram pra trabalhar então, né? Foram… a coisa de lecionar, né?
MSB: É. (…) Aí eu fico imaginando, como é que era pra chegar daqui a Cerro Azul? De carroça, né? (risos) Três dias, no mínimo, quatro dias. E a gente reclama, aí. São Paulo é 6 horas. “Ah, cansa tanto ir pra São Paulo de ônibus. Eu vou de avião. Tá louco”.(risos)
JM: Ô Maurício. Você… Uma hora você mostra as suas fotos pra gente?
MSB: Sim, posso trazer aqui. Posso trazer, trazer inclusive as fotos mais… não só minhas, mas dos meus pais, né. Tem, lá. Posso juntar os álbuns, assim. Fotografia é que não falta.
JM: Você conviveu com a Dona Índia?
MSB: Não. Muito pouco. Eu me lembro dela, mas gente não tinha muito contato entre os primos, né. Ainda quando o avô… que era o Mário era vivo, às vezes, em algum evento, a gente ia visitá-lo. Mas depois que ele faleceu, a gente não teve quase, contato. A gente se via na rua, alguma coisa assim, sabia deles, mas não… a gente não teve contato entre os primos. Meu pai e o pai dele, e tal. Não tinha esse contato. Mas a Índia, eu sabia um pouco dela, e tal.
PF: Das irmãs da Vicentina, o Mário foi o mais próximo, então?
MSB: Ele era o mais novo, né. Mas só tinha ele… eram em quantos?
NF: Seis. Seis ou sete.
MSB: Ah, tem o Vicente, né. Tinham outros… outras primas do meu pai, que eram tias dele, também. Que eram filhas da…
NF: Maria da Luz?
MSB: Irmãos da Vicentina, né? Então, tinha… Que eram as primas do meu pai, que eu me lembro, que era uma que morava aqui na Vila Hauer, era “Nezinha” que chamava-se, e a irmã dela, a Isa, que morava em Santa Maria. Eu me lembro bem, tem fotos da Nezinha na minha casa, que eu achei, esses dias. Então, a gente tinha um certo contato. Tinha… E tinha uma que morava no Rio… Essas primas, a gente tinha contato. E tem um primo do meu pai, por parte do meu avô… porque meu avô só tinha irmã, tinha três irmãs. Então o “Brito” ficou só no nome dele. Então, eu tinha uma prima, por parte do meu pai, que morava em São Paulo, e outro que morava no Rio, que era oficial da Marinha. Que tem fotos também, dele. Mas, daí ele já tinha uns 15 anos, ele já era, já… certa idade. Então, esses contatos, eu tinha por parte do meu avô. E tem um outro, outros primos do meu pai, que eu tinha um certo contato. Um deles era oficial da Polícia Militar, e o outro era professor de piano. A gente também conhecia, assim, tinha um certo contato.
NEI: Esse professor de piano era o quê seu?
MSB: Primo. Era por parte do Adolfo, né.
PF: E a mãe do Adolfo? Tem alguma memória sobre ela?
MSB: Nada. Não tenho nada dela. Só sei o nome: Graciana Adelina. Houve uma informação meio, assim… não sei se confirma, ou não, que ela se matou. Agora, a Vicentina se matou. Se suicidou na casa do meu pai. (…)
JM: Seu pai contava isso?
MSB: Não. Eu nem sei como é que chegou essa informação a mim. Não sei se foi a minha mãe que contou, ou foi minha irmã. A minha avó ficou viúva, né. O Adolfo morreu no Rio de Janeiro. Ela ficou viúva, ficou com os dois filhos. E ela estava morando com o meu pai, recém casado. E ela, está lá no registro, tomou formicida, sei lá, remédio de rato, sei lá o quê. Coisa assim, meio tenebrosa. Agora, a Graciana Adelina, parece que também, não confirmo isso, mas tem uma suspeita que ela tenha se… (…) A mãe do Adolfo. Mas não tem nenhuma informação dela. Nenhuma origem, né. Ela… Essa história das mulheres, ela se perde mais rapidamente. Predomina o lado do marido, né. E ela não tinha, ela tinha… é Graciana Adelina do Nascimento. É… José Antônio Barbosa de Brito. E a Olímpia, como é que é? Olímpia… Conceição…
NF: De Assunção
MSB: De Assunção Freitas. Que às vezes, elas nem carregavam o nome do marido.
PF: Eu pesquisei algumas coisas sobre isso, e eu achei o registro de óbito da Graci…
MSB: Graciana. Você achou?
PF: Sim. Tem ela e os três filhos, agora eu não lembro… o Adolfo e mais duas meninas.
MSB: Acho que eram duas, três, né?
PF: Registrados como… talvez ela pode ter tido outros, ou talvez tenham morrido. A gente não sabe. E é um registro que é meio padrão, mas o que indica lá, é que ela morreu de problemas do coração. Mas tem vários registros de óbito que colocam isso, né. A gente não sabe… talvez não seja exatamente isso, mas enfim. Talvez tenha sido uma morte natural, também. Não sei.
MSB: E que idade que ela faleceu? Não lembra?
PF: Deixa eu ver, aqui. (…)
MSB: Olha,(…) uma surpresa. Saber de mais uma história, aí. (risos) Tem mais, né? Tem mais surpresas. Você que descobriu?
JM: É. A Pamela é… (risos) Se juntar o Nei e a Pamela, a Interpol, assim, vai … (risos)
MSB: Outro que gosta(…) Tem o filho no meu primo. O André, também, está bem interessado. Já é primo de outra geração nossa, mais nova, né. É filho do primo-irmão, por parte do meu pai.
JM: Como que é o nome dele?
MSB: André.
JM: André. É ele que você fala, né?
NF: É ele que eu falo.
MSB: Ele também tá bem… Agora que tá paradinho com isso, mas ele estava… Eu fui com ele na Fundação, umas duas vezes. Fui naquele cartório, ali. E a gente estava mais atrás da história do José Antônio. Andamos e pesquisamos e não achamos nada. Tinha, lá, uns “Josés Antônios de Brito”, tinha um José Antônio de Brito. Barbosa de Brito, não tinha. A gente descobriu. Pela data, a gente desconfiou que não fosse ele.
JM: E o André? Qual que é o grau de parentesco?
MSB: Ele é filho do meu primo-irmão. Ele é filho do Rui. Neto do Vicente, que é irmão do meu pai.
JM: Então o Rui era irmão da…
NF: O Rui…
MSB: Era irmão do Osvaldo e da [Laíde]. Filho do Vicente de Brito.
NF: Primo, né?
MSB: O Rui é meu primo.
JM: Entendi.
MSB: Não confunda os Vicentes. (risos)
JM: É. Não é fácil. (risos)
MSB: Não. Você tem o Vicente, o…
NF: Meu pai.
MSB: O teu pai, o teu avô…
NF: Meu pai e meu bisavô.
MSB: Teu bisavô. E fora os primos… (risos)
NF: Não, eu não tenho primo Vicente.
MSB: Vicente é teu primo.
JM: É só teu, né?
MSB: O irmão do meu pai.
NF: Ah, é. É primo de segundo grau.
MSB: Mas é primo!(risos) E tem a Vicentina, que é tua tia-avó.
NF: Que é tia(risos).
MSB: Tá cheio de Vicente(risos).
PF: Achei o registro…[lê] “Onze dias do mês de abril de 1896. No distrito de Curitiba, capital do estado do Paraná. Compareceu, no mesmo cartório, Teodorico La Salla Freire, com atestado médico do Doutor Victor do Amaral, declarando que, hoje, às onze horas da manhã, é… faleceu de…” eu não sei falar isso.
MSB: É síncope cardíaca.
PF: É… síncope cardíaca “…Graciana Adelina do Nascimento, cor preta, solteira, 42 anos de idade, natural deste estado… Que a falecida não deixou testamento e deixou um pequeno negócio e alguns prédios e deixou três filhos. Dulcinéia, com doze anos, Adolfo… Adolfo com dez anos…” e esse nome, que eu não consegui ler.
MSB: “Anfilosa”?
PF: Pois é. Eu nunca vi um nome parecido.
MSB: “Anfiloca”.
JM: “Anfiloca”.
PF: “…sete anos de idade. Vai ser sepultada no Cemitério…”
MSB: E aqui, esse…
PF: Cemitério.
MSB: Não, aqui. Esse… “Segue, aqui” o que?
JM: “Sete anos”. Aqui tá “sete anos” tudo meio junto.
MSB: “De idade”, né? De idade.
PF: “Vai ser sepultada no Cemitério Público desta cidade”.
NF: Que ano que foi?
PF: 1896.
MSB: Dá pra descobrir, lá, onde ela tá.
NF: Sim.
MSB: Onde ela foi sepultada. Então, era Dulcinéia e Anfiloca?
PF: Isso. E Adolfo.
MSB: Mil, oitocentos e noventa e…
PF: noventa e seis.
MSB: Mas… solteira?
PF: Pois é. A gente foi procurando as coisas sobre o José, também, e a gente… Eu descobri o óbito dele, também, e ele morreu… morreu cedo.
JM: Quem é esse?
PF: O José Antônio Barbosa de Brito, que morreu em 1892.
CM: Por isso que ela tá como solteira.
(…)
MSB: Ah, por isso que ela tá como solteira. Ele, em 92, e ela, em 96.
JM: Então, ela, na verdade, era viúva.
PF: É, mas… ele teve uma outra família, pelo o que a gente descobriu, aqui. Que eu e o Nei mexemos na documentação e… talvez ele nunca tenha sido casado, no papel, com a Graciana.
MSB: Graciana Adelina.
PF: Isso.
MSB: E ela deixou prédios, né? Poxa, isso me interessa (risos). Prédios… não é um prédio.
NF: Negócios (risos).
JM: Tá escrito, aí, que ela deixou prédios? Fala onde?
MSB: Empreendedora, né? Interessante. Talvez ela não fosse a esposa legítima dele, também.
PF: É.
MSB: Pra ser solteira.
PF: A esposa dele, a outra, morreu em 1894.
MSB: A outra.
PF: Não, não. Desculpa. Em 1884. Dez anos antes. É, até tinha falado com o Nei, que o registro de óbito dele, ele tem um filho, é… o primeiro filho, acho que é… eles tem uma diferença, assim, de quase quarenta anos.
MSB: Então, talvez ela tenha sido a segunda.
PF: Ela é a segunda.
MSB: Ah, tá.
PF: Ele casou com a outra em 1854. E já vem logo uma filha. Então, tinha dois filhos desse primeiro, dessa primeira relação, depois, mais três com a Graciana.
MSB: Dois do primeiro?
PF: Dois do primeiro.
NF: E não há referência que ele tenha sido escravo, né?
PF: Não.
MSB: Não tem?
NF: Não.
MSB: 1850. Então tem outros “Britos” por aí, que são de outra… de outra linha.
PF: É. Só que eles são bem mais velhos, né. Pra achá-los, assim, é bem difícil.
MSB: É muito difícil.
PF: O que a gente achou mais, é que ele foi músico bastante conhecido.
MSB: Ele foi músico. Eu descobri que tem… não sei se vocês têm memória de futebol (risos), na seleção de 70, tinha um jogador de futebol Brito, que era da seleção brasileira, foi tricampeã. Esse(…) era parente. Ele nasceu no Rio de Janeiro. Mas é difícil, né, por que só teve filha, né. Teve o Adolfo e as filhas, as mulheres perdem o sobrenome.
PF: Eu tentei achar alguma coisa sobre as duas, mas não sabe se casou, né, a gente não sabe o outro sobrenome, né. É difícil achar.
MSB: Tem uma prima do… prima… é… que é a… que tá viva. Poderia chamá-la pra dar um depoimento. Ela é da minha geração, mas mais velha do que eu. Ela é filha do… Maximiliano? Esse Maximiliano é… é neto do José Barbosa… José Antônio. O pai dela é neto do José Antônio Barbosa de Brito, que é primo do meu pai, que é… que…
NF: Eles vivem onde? Eles vivem aqui em Curitiba?
MSB: Acho que só tem ela, agora. Os irmãos dela já faleceram. Dois eram oficiais da polícia militar, eu conheci bem, eles. (…) Mas ela, acho que é a única que tá viva, da geração dela. O pai dela era primo-irmão do meu pai. Então, o pai dela é filho de uma dessas aí, né? Então pode ser que no registro do pai dela, tenha o nome dessas, aí. E não era Brito, eles não são Brito. Eu tenho… acho que ontem, eu vi… minha irmã acho que tem contato com ela. Não sei o por que da história, mas o túmulo da família dela tá em nome da minha irmã. Daí, quando morre alguém, chamam a minha irmã pra assinar, lá, liberar o túmulo. Eu não sei isso, aí.
JM: A sua irmã tá com que idade?
MSB: Minha irmã faz 70 anos dia 26, agora. 70 anos.
JM: Qual o nome dela?
MSB: Ercília, Ercília Maria, por que era o nome da avó, da avó materna. Minha mãe que colocou. Eu vou pegar esse telefone e vou passar pra você. É Nilse, acho, o nome dela. Daí, a gente pode ir atrás, lá, dos Brito, por esses nomes. Que, se ela tiver o registro do pai dela, aí então, a avó dela é uma dessas duas. É uma dessas duas, aí. É, isso mesmo.
JM: Será que a sua irmã conversaria com a gente, também?
MSB: Posso falar com ela. Ver se ela… o que ela poderia falar de mais. Porque ela, assim, ela tem a vivência dela, mas ela não foi… através do Seicho- No- Ie, ela buscou isso, mas ela não adentrou muito no… Eu vou atrás, né, mas ela, assim… ela me conta, assim… ela sabe de fatos da infância dela, né. Mas não é muito diferente, acho, do que eu. Pode ser que ela tenha alguma memória de algumas coisas que eu não tenho…
JM: Ela… trabalhou fora?
MSB: Não, minha irmã, não. Ficou meio, aí… cuidando da minha mãe, sabe. Depois ficou desempregada, conseguiu se aposentar pelo “LOAS”. Não foi muito bem sucedida, aí, na parte profissional.
JM: E as fotos estão com você?
MSB: Sim, eu tenho fotos. Tem parte que está com a minha irmã. Eu tenho os meus álbuns, né. Minha irmã, também…
JM: Ela tem fotos, né?
MSB: Mas eu posso selecionar umas fotos que estão meio assim, dispersas (…) Poderia juntar, se houver necessidade. Posso ver, posso juntar.
JM: Conseguiu, aí? Fazer o…
MSB: Eu vou falar… passar o telefone da Emilse. Emilse? Minha irmã tem contato com ela.
NF: Quantos anos ela tem?
MSB: Ela, em torno dos 70. Um pouquinho mais velha que a minha irmã. Em torno disso. E ela, acho, que não tem mais… só tem ela. Da geração dela, só tem ela. E do outro… do outro primo, (risos) eu não me lembro o nome, por que chamavam por apelido. Tinha o “Milico” e o “Cheiroso”(risos). Ele usava perfume, então “Ah, chegou o cheiroso. Chegou o cheiroso!”. E o “Milico”, por que ela era, acho que oficial da polícia. Acho que os dois eram oficiais da polícia… Tocava piano. Esse, eu não tenho nada dele. Assim, se ele teve filhos, não sei se ele teve filhos. Eu sei que eu me lembro um pouco dele e da esposa dele, porque ela era, assim, não era loira, mas era clara, assim. Então, meio que, quando chegavam nos lugares, assim, na família, ela meio que… né… ressaltava, assim. Era branca, assim, né. Então, é essa memória que eu tenho dela, mas é muito… um pouco vaga, a memória dela. E eu sabia que ele tocava, ele era professor de piano. E era difícil, né. Uma coisa rara, um professor de piano e negro, né. Ele era bem escuro, inclusive. Uma pessoa muito doce, muito suave. Eu tenho a imagem dele. Artista, né? Então, desse eu não tenho, mas pode ser que a Emilse sabe alguma coisa. Ele era tio dela. Então, eu acho que ele vai te… enriquecer essa informação, aí. Porque eu não tenho muita coisa, assim por parte do… pra chegar lá no José Antônio, né.
PF: E a Cecília era sua bisavó?
MSB: Bisavó por parte da minha mãe.
PF: E o sobrenome dela, você não lembra, né?
MSB: Não. Mas tenho primas… Tem uma prima, a Cecília, acho que ela tem mais informação. Que tem, por parte da minha mãe (…) Tem uma Cecília que é filha… é neta da Cecília, que são primas da minha mãe. E essa família que criou a minha mãe. A filha do… Eurides com Maria Tereza. Aí tem bastante filhos, e tem a Cecília, que é uma das netas da Maria Tereza, desse casal. Ela tá com setenta e pouco. Ela preserva a memória, também, da família. Ela sabe de alguma coisa. E, também, parece que ela foi da Seicho- No- Ie, ou é. Então(…) eu posso tentar localizar, assim, alguma coisa.
PF: Com o sobrenome, a gente poderia ir atrás, também.
MSB: O problema é que é “Santos”, né. (risos)
PF: Tem bastante.
MSB: Caiu no buraco negro(risos). “Santos” é complicado. Não sei. Porque não tem, né. “Brito” já é mais restrito, né. Mas eu não sei. De repente, ela acha. Talvez ela até tenha o sobrenome… E ela saiba mais detalhes dessa Cecília, aí. Que ela era bem mais velha do que eu, e a mãe dela era a mais velha da família. Então, eu acho que talvez ela saiba. E ela é a mais velha da geração dela. Eram bastante irmãos. Eu posso tentar ir atrás. (…) Minha irmã, acho que até tem o telefone dela, eu posso, daí, passo pra você, daí você vê o contato, né. Mas eu sei que tem… nessa família, “tem gato na tuba, aí”. Como diz o outro, né? A minha mãe falava de uma família que era muito conhecida, assim, que devia ser de alguma desses tios… filhos da Cecília, assim. Mas eles não davam sobrenome, né? Alguns não, né? Acho que Munhoz da Rocha era um deles. Tem outro… Miró. A Família Miró, também, e a família Leão que doou o túmulo. Eu tenho a escritura do túmulo da minha mãe, que foi doada à minha avó Ercília. Tenho esse documento. Eu tenho que trazer, também. (…) Parece que foi a família Miró. Tem na escritura do túmulo, eu tenho. É o documento mais antigo que eu tenho. Acho que é interessante, né? Pode ser que ele tenha algum detalhe que passa “desapercebido”. Pra vocês que pesquisam, acho que tem mais… acho que pode.
JM: Então tá, Maurício. Muito obrigada.
MSB: Ajudou alguma coisa?
JM: O que interessa pra gente, é isso. Ir conversando com as pessoas e recolhendo essas…
MSB: Essas informações.
JM: Memórias, né. Muito obrigada, mesmo.
MSB: Espero ter ajudado em alguma coisa.
JM: A gente tá fazendo assim, sabe, Maurício. A gente guarda as gravações aqui, e a gente vai fazer um acervo. A gente já tem da Dona Índia, né. A gente conversou com ela uns meses antes, né.
NF: Em junho.
MSB: É Vicente, né? (…)
JM: E a gente queria fazer assim: queria guardar esses registros, né, que podem servir também como material pra gente analisar. Então, eu queria saber se você autoriza que a gente guarde, que a gente utilize esse material como fonte de estudo, mesmo.
MSB: Pra mim, não tem nenhum…
JM: A gente vai fazer depois, um termo de autorização, e a gente pede pro Nei entregar, porque… E aí, as fotos também, né, se você puder autorizar a gente a guardar as fotos. Porque interessa pra gente, fazer esses registros, sabe, de famílias negras da cidade. Da população negra da cidade. Então, se você autorizar, também, que a gente reproduza algumas imagens, vai ser bem legal pra gente.
[ a entrevista formal finaliza, mas o gravador continua ligado e grava observações dos participantes e troca de informações sobre as pesquisas que fazem]
MSB: Do dia-a-dia, né, das pessoas. Tem muita pouca coisa, né? Antigamente, uma fotografia, era muito mais difícil, né? Às vezes, tirava uma fotografia pra vida toda. A do casal, ali. Do Adolfo, Nossa, aquilo foi um momento único, né, deles. Meu pai, já tem do casamento, já. Mais recente, né. Deles, acho que nem tem isso. E aquelas fotos mais antigas do Adolfo, que ele tá no Rio de Janeiro, você tem? Você tem, né?
NF: O Rui tem.
MSB: E aquela foto do Adolfo, já tem aqui?
NF: Qual?
MSB: Da formatura do Adolfo.
NF: Aquela da formatura, eu já apresentei, aqui. Mas um “xerox”, né. Quem tem, também é o Rui.
MSB: Tá. Mas ali já dá pra até ver o nome dos formandos bem pequenininho, né. E a origem deles, ali, dá pra ver. E tem a origem deles, né, o nome e o estado. Eles punham de onde vinham , né. Aquele é o registro mais antigo que tem.
NF: É um registro antigo. Mas o Rui tem o original.
MSB: Tem o original daquele?
NF: Sim.
MSB: Olha. Interessante.
NF: Do Adolfo, também.
MSB: Do Adolfo, que eu conheço.
NF: Então. Tem do Adolfo fumando e tem só do Adolfo.
MSB: Ah, essa do Adolfo fumando, eu tinha. Ele fumava charuto, né? Muito “chique no último”, meu avô. Ele usava polaina, né? Eles usavam polaina. Sabe, né? Polaina é um negócio que usava pra proteger o sapato.
JM: Ah, no pé.
MSB: Era “ultra-chique”, isso. Eu usava isso no Colégio Militar. Quando tinha traje de gala, túnica branca, eu usava a polaina branca, aqui. Usava isso pra proteger… era coisa de… império, né. Usava um… era uma coisa branca, assim, por cima do sapato. Mas isso era um traje que as pessoas usavam no dia-a-dia, né. Especial, né. Especial civil, não no Exército. E ele usava isso. Colete, né. Ele era todo cheio de… de elegância.
JM: Tá bom, então. Muito obrigada.
MSB: Obrigado, vocês, por…
JM: E aí, a gente podia combinar de…
MSB: Eu vou juntar as fotos.
JM: Você sabe que essa coisa de ver foto é bem legal, né? A foto, às vezes, ajuda a gente a lembrar, né. Por isso que, assim, se a sua irmã pudesse se juntar a nós pra olhar as fotos e dizer, mais ou menos o que que era, seria também, bem legal. Vê com ela, se ela não quer?
MSB: Aí, quando eu trouxer as fotos, a gente marca e ela vem junto.
JM: É. Se ela tiver disposição também, né.
PF: Essa documentação que eu tenho, também é bom imprimir. Depois, posso passar pra vocês. O Nei, acho que já tem quase tudo, né. Mas acho que é legal ter em papel. Fica mais fácil.
MSB: E me ajude, então, aqui. A questão de (…) pesquisar a história do Adolfo. A partir do Arquivo Público. A secretaria de Educação tem coisas também, né?
PF: Pode ter.
JM: O Arquivo Público deve ter as coisas da Secretaria de Educação. Já devem estar no Arquivo Público. Porque eles têm lá, se você pegar o site do Arquivo Público entrar na página, eles têm, em alguns lugares, ali, você abre… eles chamam de fundo, que é uma coleção dos documentos, e tem coleção das secretarias. Então lá, a secretaria de Educação, pode ser que tenha.
(…)
MSB: Há vinte anos atrás, eu estava passando em frente ao grupo em que eu estudei, o Prietro Martinez, daí eu falei “vou entrar aqui”. Naquele novo, né. Aí entrei, perguntei “Olha, eu estudei aqui em tal ano”… “Ah, não. Não tem mais documento aqui”. Eu estudei até 1961. Eles falaram que a partir de 1960, sei lá o quê, não tinha mais nada lá, estava tudo na secretaria.
JM: Então. Aí, as secretarias quando os documentos ficam mais antigos, eles mandam pro Arquivo Público.
MSB: Então, acho que teria que passar lá.
JM: Do Adolfo, certamente, vai estar lá.
MSB: E nas cidades, né? Se tiver… essas cidades pequenas.
PF: É que não dá pra saber. Tal documentação não tem quanto tempo ele deu aula na Sociedade [Protetora]. Mas é década de 30.
JM: E que registro que vocês tem, que ele deu aula, lá?
PF: Imprensa.
JM: Imprensa?
PF: Quando a sociedade se chamava Benedito Marques, ainda. Ele deu aula, mas não dá pra saber por quanto tempo.
MSB: Lá dentro da Sociedade, tinha uma escola?
NF: Escola noturna.
JM: Por que que eu não achei? Ah, talvez eu tivesse procurado Sociedade Operária.
MSB: Então é Sociedade Operária a partir de que… Ela mudou de nome?
NF: Augusto de Freitas era o professor.
MSB: Quem é Augusto?
NF: Tentei descobrir (risos) Mas ele (…) Mas eu não sei se tinha relação. Mas o Augusto de Freitas era professor.
JM: Porque eu queria ter achado a escola, depois daquela apresentação, que eu fui buscar…
PF: Depois, ela vai mudando de nome, assim. Deve ter relação…
[ pessoas se retiram da sala e o gravador é desligado]