Nascido em 7 de setembro de 1846, Hilário Munhoz de Souza Ribas vivenciou a experiência de ter sido escravo na cidade de Curitiba, tendo-a compartilhado com pessoas a que posteriormente se juntou nas atividades relacionadas ao associativismo negro na cidade.
Era filho de Porcina Munhoz Ferreira e não há registro de quem tenha sido seu pai. Casou-se pela primeira vez no ano de 1885, com Maria Joana de Souza Ribas, filha da africana Michaela, com quem teve ao menos seis filhos: Alice, Orestes, Heráclito, Adelaide, Porcia e Lavinia. Após o falecimento de Maria Joana por tuberculose, no ano de 1897, casou-se pela segunda vez com Rita Cesarina de Souza Ribas, com quem teve mais três filhos: Nair, Euclides e Hilário.
Ao lado de Norberto Garcia, que também vivera como escravizado na cidade, e mais alguns homens negros, foi sócio fundador da Sociedade 13 de Maio, em Curitiba, no ano de 1888. Foi sócio e ocupou cargos na diretoria de várias associações da cidade de Curitiba, como o Club Puritano (grupo carnavalesco fundado em Curitiba no ano de 1893), o Grêmio Guaíra, a Sociedade Operária e Beneficente Protetora dos Operários e as irmandades de São Benedito e de Nossa Senhora do Rosário.
A prática associativa parece ter sido passada para seus descendentes, pois Orestes Munhoz, seu filho mais velho, também assumiu cargos de importância na Sociedade 13 de Maio e marcou presença em outras associações da cidade. Além disso, Orestes casou-se com Antônia de Freitas Munhoz, filha de Vicente Moreira de Freitas, companheiro de Hilário na fundação da “Treze” e no ativismo junto à “Protetora dos Operários”.
Os clubes e associações também foram parte de sua vida profissional, pois no final do século XIX encontrava-se empregado no Club Curitibano, importante local de encontro da elite da cidade. Já no início do século XX e até o fim de sua vida, exerceu funções de funcionário público na Delegacia Fiscal, ocupando os cargos de servente e porteiro.
Hilário faleceu em 1° de outubro de 1906, aos 60 anos de idade, vitimado por uma lesão cardíaca que, como noticiou um jornal, acarretou a ele “três meses de sofrimento”. Podem ser encontradas diversas notas relacionadas ao seu falecimento. Uma delas, explicando a consternação que sua morte provocou na cidade, dizia ter sido ele “honesto e probidoso homem de cor, mas cuja alma possuía a alvura alabastrina do Bem, nobre e disposta como era à prática de ações cavalheirosas”. Ao pretender expressar respeito, a nota evidencia a pesada carga preconceituosa contra os negros, que fora certamente carregada por Hilário e tantos outros que compartilhavam com ele a cor da pele e a vivência do racismo, ao qual procuraram fazer frente por meio do associativismo.
verbete elaborado por: Carolina Marchesin Moises – Universidade Federal do Paraná – Mestranda
janeiro 2020
REFERÊNCIAS:
Bibliografia
FABRIS, Pamela Beltramin; HOSHINO, Thiago. Sociedade Operária Beneficente 13 de Maio: Mobilização negra e contestação política no pós-abolição. In: MENDONÇA, Joseli M. N.; SOUZA, Jhonatan U. Paraná insurgente: História e lutas sociais – séculos XVIII ao XXI. São Leopoldo: Casa Leiria, 2018. pp. 51-64.
FIGUEIRA, Miriane; HOSHINO, Thiago. Negros, libertos e associados: identidade cultural e território étnico na trajetória da Sociedade 13 de Maio (1888-2011). Curitiba: Fundação Cultural de Curitiba, 2012.
Fontes
Registros civis e paroquiais disponíveis no site FamilySearch <https://www.familysearch.org/pt/>
Periódicos disponíveis no site da Hemeroteca Digital Brasileira <http://bndigital.bn.br/hemeroteca-digital/>